Naquela sexta-feira pela manhã, encontrei com ele sabendo que dentro de algumas horas estaríamos pelados um com o outro.
Esse poderia ter sido o começo de muitos dos dates que tive ao longo da vida. Embora eu aprecie o momento mágico em que um encontro despretensioso ganha contornos de interesse sexual, muitas vezes marquei com pessoas com a explícita vontade de transar com elas, às vezes mesmo antes de nos conhecermos pessoalmente.
Hoje essa é uma facilidade providenciada pela tecnologia, embora na época do início das minhas experiências sexuais, essa tenha sido a melhor forma que encontrei de conhecer pessoas com as quais pudesse ter contato íntimo. Conheci meus primeiros três namorados pela internet, além de várias outras pessoas. O sexo, e portanto a nudez, servia como catalizador de novas conexões.
De uns tempos pra cá, comecei a preferir outros tipos de contato inicial. Em vez de marcar encontros cuja intenção é, desde o início, terminar em sexo, venho marcando encontros cujo propósito é conhecer outros humanos e explorar possibilidades juntos, dependendo do que me sinto interessado em fazer com eles a cada momento.
Meu eu do passado provavelmente não teria aceitado ir a um onsen, ou águas termais, sem um interesse explicitamente sexual pela outra pessoa. Meu eu do presente, por outro lado, estava a fim da experiência de banhar-se em público aqui no Japão, então quando o convite surgiu, o sim veio naturalmente.
(Naturalmente, para mim, significa que falamos sobre irmos juntos e aí levei um mês inteiro para finalmente combinar uma data, mas não vamos falar sobre isso.)
Nós viajamos por duas horas de trem para chegar até esse onsen em uma cidadezinha fofa chamada Chichibu. A entrada fica conectada com a estação de trem, ao lado de uma pequena praça de alimentação.
Antes de entrarmos na recepção, tiramos os tênis e os colocamos em um armário. Eles ofereciam chinelinhos, mas ficamos apenas de meias. Explicamos à moça da recepção o que queríamos, recebemos pulseiras com as quais poderíamos acessar outros serviços, e subimos para o vestiário.
No caminho, passamos por algumas pessoas usando quimonos. O prédio dispunha de várias amenidades, incluindo poltronas com televisão e uma sala com tatame na qual algumas crianças estavam brincando. Havia também uma máquina para alugar quimonos. Ao que parece, algumas pessoas passavam boas horas naquele espaço.
Entramos no vestiário e tiramos nossas roupas. Antes de entrar nas águas termais, todo mundo precisa tomar banho. Isso mesmo, tomamos banho para tomar banho.
Para o primeiro banho, sentamos em um banquinho e usamos sabão, shampoo e condicionador disponibilizados no local. Podemos usar um chuveirinho ou um balde, e depois que terminamos, deixamos tudo limpinho para a próxima pessoa se lavar também.
Logo que sentei, a primeira coisa que observei foram as voltinhas que a minha barriga faz quando estou sentado. Estiquei a coluna, me ajeitei no banco e olhei ao redor. Ninguém estava olhando. Cada um estava ocupado com seu próprio banho. Um homem mais distante estava se depilando com uma gilete. Se alguém estava olhando para os outros corpos lá, ninguém estava reagindo. Éramos todos homens e garotos tomando banho.
Terminado o banho, seguimos para a área das águas termais carregando apenas uma toalhinha pequena. Ela tinha um número surpreendente de utilidades: vi gente escondendo suas partes íntimas, outros secando as mãos e o rosto entre uma piscina e outra, eu mesmo utilizei como um pequeno travesseiro ao encostar a cabeça nas margens de pedra e também como uma máscara para os olhos quando deitei no chão.
O dia estava frio, cerca de 10°C, então o contraste entre o calor das águas termais e o frio do ar criava uma sensação intensa de relaxamento. Passei a maior parte do tempo em um espaço a céu aberto. Havia também piscinas numa área fechada e uma sauna, mas não consegui passar mais que um minuto nessas áreas sem ficar tonto.
Aliás, na primeira vez que levantei para sair de uma das piscinas de água quente, precisei ficar meio minuto parado e recuperando meus sentidos. Acontece comigo sempre que tento sair de banheiras com água quente, imagino que seja um momento de pressão baixa.
Não sei dizer quanto tempo passamos no onsen. Uma hora, talvez duas? Tem algo de muito relaxante na experiência como um todo, tanto que no caminho de volta para casa eu só conseguia dormir no trem.
Gostei de estar nu com outras pessoas em um ambiente em que a nudez não era sexual. Ninguém lá ficou de pau duro, ninguém lá ficou encarando os corpos alheios (eu pelo menos tentei ser discreto), ninguém lá iniciou qualquer contato íntimo.
Pensei nisso? Pensei. Especialmente em uma piscina em que a água era rosa e portanto ninguém veria movimentos e toques abaixo da superfície… Às vezes estava tão perto do meu amigo que me pegava imaginando como um toque sutil – um pé gentilmente encostando no outro – poderia transformar aquele momento relaxante em um delicioso convite ao flerte e ao tesão.
Imagino, inclusive, que muitos encontros íntimos ao longo da história da humanidade tenham começado desta forma.
De alguma maneira, foi muito parecido com quando visitei uma praia de nudismo em Barcelona. Estava também em um encontro sem nenhuma intenção sexual prévia e me vi tirando a roupa em meio a várias outras pessoas, todas levando suas vidas adiante e curtindo a experiência da nudez sem a necessidade de sexualizá-la.
Isso foi em 2018 e lembro que medo foi um fator em como me senti nessa experiência.
Seis anos depois, estou aqui e o sentimento é de leveza. Talvez porque, além das roupas, estou aprendendo também a tirar medos e ansiedades.
Com carinho,
Tales
Senti sua experiência a partir da sua narrativa. Esse desprendimento que você leva a diante, me faz querer ser assim também. Acho que é, de fato, o caminho para o relaxamento e leveza. Algo que eu também procuro.
Lendo sua experiência, me lembro de uma imersão em tantra para homens gays em uma escola de meditação. A nudez era algo que eu imaginava que sentiria mais dificuldades, porém, não foi! O que mais pesou para mim foram as descobertas sobre eu mesmo, minha história e meus colegas de imersão. Isso foi pesado e difícil, porém, gratificante. Foram três dias, onde passávamos a maior parte do tempo pelados, juntos em terapia. A partir daí, consegui perceber que estar ne é natural e abre caminho para a intimidade incrível. No primeiro dia, pensei: “pronto, agora estou sem nada, não há mais nada que me prende, não há outra foram de me expressar sem ser a minha forma”. Esse pensamento foi libertador e até hoje recorro a ele quando preciso.