Espontaneidade e outros marcadores de saúde
Três sinais de quando as coisas estão fluindo bem
Li um tuíte que me deixou pensativo.
Não quero dedicar muito tempo neste texto revisitando as experiências de violência social que vivenciei, em especial durante a infância e adolescência, tampouco olhar com muita atenção para o que vivem tantas outras pessoas que tiveram menos sorte do que eu – expulsão de casa sendo um dos exemplos mais comuns.
O que quero, na verdade, é pensar um pouco sobre como viver depois de aprender que quem eu sou não é exatamente certo para o mundo.
Nota: hoje eu sei que quem eu sou e com quem me relaciono não diz absolutamente nada sobre o meu valor enquanto ser humano. Entretanto, como tantas coisas que observei e absorvi quando ainda era criança e estava dando os primeiros passos em sociedade, esses aprendizados seguem comigo e, se me permito entrar no piloto automático por tempo o suficiente, eles me tomam por inteiro.
Há algum tempo, ouvi de um amigo que ele considerava três marcadores de saúde para observar sua própria atuação no mundo. São eles: espontaneidade, curiosidade e criatividade. Fez sentido para mim. Um relacionamento ou ambiente poderia ser considerado saudável se, quando estou neles, percebo-me:
espontâneo, quando consigo ser eu mesmo com menos filtros cuja função é me proteger das impressões alheias sobre mim. Filtros de cuidado com outros humanos não entram nessa categoria, porque quero sentir-me livre para ser tão estranho e esquisito quanto quiser sem que, com isso, eu tripudie sentimentos alheios.
curioso, ou seja, interessado em saber e interagir mais com o que me está sendo apresentado. Se não quero saber mais sobre um ser humano com o qual estou me relacionando, isso costuma ser um indicativo de que algo ali não está funcionando para mim. Esse algo, é claro, pode ser minha própria postura arrogante de achar que já sei alguma coisa sobre o universo complexo que é um outro ser vivente.
criativo, o que entendo como “disposto a buscar, inventar e experimentar alternativas”. Até hoje, as situações que me convidaram para um estado de “pensamento único” foram as mesmas às quais respondi com ansiedade, nervosismo, medo ou raiva. Embora esses sentimentos tenham seu papel na minha vida, não aprecio o modo como meu senso de criatividade se dilui quando as experimento.
Se não me percebo espontâneo, curioso e criativo em uma relação ou ambiente, podem haver mil explicações. Pode ser algo que eu estou trazendo comigo (memórias, bagagens, modos de olhar), algo que estão me oferecendo (ofensas, descasos, descuidos) ou um reflexo de elementos culturais/sistêmicos (esses costumam ser mais difíceis de perceber na hora, mas exemplos não faltam, como o fato de que a corte de Osaka, no Japão, recentemente considerou que recusar casamentos entre pessoas do mesmo sexo é algo constitucional e, portanto, aceitável – link para matéria da BBC em inglês).
Gosto de usar esses marcadores de saúde como indicadores para os quais posso concentrar meu olhar. Vida é coisa complexa e há muitos sinais que concorrem pela minha atenção; ter alguns deles definidos me ajuda a reconhecer mais facilmente quando algo poderia ser diferente.
Quando percebo que algum desses marcadores de saúde não está presente em uma situação, sei que há oportunidade para lidar com ela de outra forma. Uma vez consciente disso, posso fazer escolhas melhor informadas, em vez de seguir um piloto automático que geralmente me leva para o conforto do já conhecido – mesmo que seja desconfortável.
Sugiro dar uma olhada 🧐
Algumas das coisas para as quais andei dedicando atenção.
Para me manter informado
Decidi acrescentar um pouco de notícias no meu consumo rotineiro. Ainda não decidi qual ou quais serão meus meios favoritos, então por hora estou recebendo newsletters de três fontes diferentes: Meio, Garimpo e Nexo. Aceito indicações, inclusive!
A homofobia nossa de cada dia
Um cinema no estado estado-unidense de Oklahoma colocou um cartaz pedindo desculpas por descobrirem tardiamente que o filme Lightyear contém uma cena de “beijo do mesmo sexo”. Ouvi dizer que a cena do beijo dura 2 segundos dentro do filme de animação.
O aviso, que já foi retirado (segundo site Gayming Mag, em inglês), dizia o seguinte: “Aviso. Atenção, pais: a gerência deste cinema descobriu, após reservar Lightyear, que há uma cena com beijo entre personagens do mesmo sexo dentro dos primeiros 30 minutos do filme. Faremos o que pudermos para passarmos a cena de forma acelerada, mas poderá não ser exato. Pedimos desculpas por quaisquer inconveniências causadas por essa descoberta tardia”.
Há pessoas neste planeta que acreditam que ver dois personagens animados do mesmo gênero se beijando pode ser perigoso para crianças. O mesmo risco não é considerado sobre personagens de gêneros diferentes, que abundam em nossas telas, então sabemos que o problema não está em ver beijos e sim em quem tem direito a ser visto se beijando.
Lançamento de livro
A Luciana Magry, que tenho o privilégio de considerar uma amiga, lançou um livro chamado Vivêncer (link para adquirir com a editora). Conheci a Lu como participante do Ninho e me encantei com a sua dedicação não apenas à literatura, como a tudo o que ela coloca no mundo. Inclusive, ela foi a responsável por fazer acontecer diversos encontros do Clube do Livro do Ninho de Escritores, apresentando os livros e conduzindo as discussões. Recomendo acompanhar o trabalho dela (link para perfil no Instagram).
Teo & O Mini Mundo
Eu gosto muitíssimo do trabalho do Caetano, criador de Téo & O Mini Mundo. Ele publica tirinhas no Instagram e livros, além de oferecer cursos de aquarela. Com frequência me pego inspirado pelas publicações que ele faz nas redes sociais.
Obrigado pela leitura!
Com carinho,
Tales