Bom dia,
Não faz muito, descobri um estilo de contar histórias que não corresponde à tradicional jornada do herói, tampouco se baseia no conflito e na transformação individual como elementos principais.
Chama kishotenketsu (tinha que ser uma ideia japonesa, né?) e propõe é uma estrutura em quatro atos: introdução, desenvolvimento, mudança/virada e conclusão. Ainda estou aprendendo a respeito, portanto não vou explicar em maiores detalhes porque realmente não sei.
O que me interessou ao aprender sobre kishotenketsu foi a possibilidade de histórias que existam além do padrão que aprendi como o correto sobre como narrativas devem acontecer. Padrão esse que, inclusive, muitas vezes ensinei em meus cursos.
Perceba que não estou duvidando nem jogando fora o conhecimento que acumulei sobre como histórias podem ser contadas. O que estou destacando é que há formas diversas de contar histórias, mas por alguma razão aprendi e ensinei por bastante tempo que narrativas precisam seguir um modelo específico – curiosamente, um modelo fundamentado em pensamentos desenvolvidos na Europa e na América do Norte.
Encontrar o kishotenketsu, portanto, me devolveu um senso de liberdade.
Posso escrever e contar as histórias que eu quiser, mesmo que elas não girem em torno de incidentes incitantes, recusas ao chamado, sábios e elixires.
Posso, inclusive, escrever histórias só porque estou com vontade de escrevê-las.
Precisei encontrar uma nova estrutura para enfim refletir sobre o que sempre considerei que fosse “o certo”. Acho que acaba sendo sempre assim, não é mesmo? Somos e sabemos do jeito que somos e sabemos até que encontramos um exemplo sobre como as coisas podem ser de outra forma.
E aí, aos poucos, o mundo vai parecendo mais complexo, diverso e interessante. 😀
Pra olhar e pensar 👽
Algumas das coisas para as quais andei dedicando atenção.
Dicas para escutar melhor
A Gama Revista publicou um texto com dicas para quem quer oferecer uma escuta de maior qualidade para as pessoas ao seu redor. Recomendo!
Homofobia discreta em Pokémon
Vi no Instagram um clipe (em inglês) de uma cena no desenho Pokémon no qual dois dos monstrinhos capazes de falar convidam um terceiro para sair num encontro romântico. A “graça” da situação é que o resultado da disputa não é o esperado por nenhum dos dois cortejadores, já que ao final da cena se descobre que o terceiro monstrinho é, assim como os outros dois, um “ele” em vez de uma “ela”.
O humor nesta cena está baseado na ideia de que é absurdo, impossível, impensável, hilário que dois homens tenham cortejado um outro homem que acharam que fosse uma mulher. Ou seja: o “engraçado” é que dois homens disputaram o afeto de um terceiro homem em vez de uma mulher.
Será que se eu continuar repetindo e esmiuçando a “piada”, ela termina de se esvaziar?
Não sei dizer quantas vezes já vi essa situação ser tratada como algo risível. Afinal, que terrível é a possibilidade de que um ou dois homens mantenham o seu interesse por um outro homem.
Queria ao menos uma vez presenciar uma cena semelhante em que o gênero da criatura cortejada não seja uma barreira imediata a qualquer intenção de troca e afeto.
Pelo jeito a USP é só sexo e drogas…
Um perfil falso no Twitter, criado para espalhar asneiras a fim de favorecer políticas de extrema-direita, publicou uma sequência de tuítes sobre “o que acontece de verdade nos corredores da USP”. Eu só fiz cursos de extensão por lá, então deve ser por isso que nunca vi nada disso…
Se alguém escrever essa fanfic, me manda, por favor?
Por hoje, vou parando por aqui. Obrigado pela leitura!
Com carinho,
Tales