Olá,
Hoje estou completando 36 invernos. Mesmo que a data de aniversário seja, assim como a virada de ano, um marco artificial, percebo-me mais reflexivo ao redor dessas datas. Deve ser porque gosto de usar qualquer desculpa que possa encontrar para refletir se a maneira como vivo é a melhor maneira que poderia estar vivendo.
Lembro de um aniversário em particular, da época em que eu morava em Goiânia. Faz uma década, mais ou menos. Saà para caminhar com meu então namorado, um moço com o qual eu já não desejava mais partilhar tamanha intimidade, mas não sabia direito como juntar a coragem necessária para enfrentar a conversa do término. Na volta, paramos em uma padaria para comer uma torta de morango. Era fim de tarde e a luz artificial produzia um ambiente acinzentado naquele fim de tarde, um reflexo de como eu estava me sentindo por dentro: solitário e sem cores. Um conhecido da faculdade me encontrou por lá, comentei que era meu aniversário, ganhei um abraço e voltei para casa. Não recordo o restante do dia. Acho que fiquei assistindo algum seriado.
Tenho também muitas memórias felizes de aniversários: festa surpresa com as amigas da editora em que trabalhei, celebrações planejadas com amigos queridos, outras festas surpresas que viraram uma tradição entre meus colegas de apartamento, ao ponto em que a surpresa era apenas como tudo se revelaria, festa-chá-de-casa-nova, as memórias são variadas.
O que aniversários e outras datas comemorativas que tipicamente envolvem reuniões de pessoas queridas têm em comum para mim, além de serem momentos de reflexão, é uma avaliação de como anda meu lugar entre a comunidade de pessoas com as quais eu convivo.
Estou pensando nessa questão de distância por alguns motivos. O maior deles no momento é que estou de viagem quase marcada para o Japão, onde não conheço ninguém, mal falo o idioma local e passarei pelo menos seis meses. Isso me assusta porque, dentre as reflexões que faço em aniversários e viradas de ano, a percepção de que gostaria de ser alguém que cuida melhor das próprias relações afetivas – estando presente mesmo quando distante – sempre reaparece.
Lá em Goiânia, naquele ano em particular, muitas das pessoas que fizeram parte da minha vida no Centro-Oeste já não estavam mais tão próximas geograficamente, cada uma seguindo um rumo diferente pelo paÃs ou planeta. Hoje compreendo que meu equÃvoco foi pensar que elas não estarem próximas fisicamente significaria que não o estariam afetivamente.
Eu sei que amor e carinho não têm rede de cobertura limitada.
É por saber isso que estou escrevendo este texto como um lembrete para mim mesmo: me importa estar em comunidade, me importa cuidar de pessoas amadas, me importa aprender e praticar jeitos melhores de cultivar minhas relações.
Lembrar, sustentar e praticar esse saber é meu presente de aniversário para mim mesmo 💕 (além de uma balança digital que comprei pra deixar no banheiro)
Obrigado pela leitura.
Com carinho,
Tales
Feliz aniversário, Tales! Desculpe-me pelo atraso! Fico feliz por vc viajar para o Japão! Vc vai continuar escrevendo e postando suas observações? Abraço grande!
Tales, mas porque tu vai ficar tanto tempo no Japão? Vai estudar nihongo lá, aprender a desenhar em estilo mangá, ir em eventos de lá?