Amanheci quinta-feira com a notícia da Rússia bombardeando a Ucrânia. Mais cedo na semana soube que no Texas, nos Estados Unidos, há um movimento oficial para que o Estado investigue e processe pais e cuidadores de crianças trans caso contribuam para seus processos de transição de gênero. Os conflitos na Palestina continuam. Inclusive, decidi pesquisar sobre conflitos armados atuais e encontrei essa página da Wikipedia em inglês que lista pelo menos 43 conflitos que seguem acontecendo hoje. Eu não sabia de nem um terço deles.
Enquanto isso, agora que a maior parte “operacional” de lidar com o falecimento da minha madrasta acabou – funeral, cremação, burocracias etc. –, meu pai me avisou que vai à praia tentar espairecer. Ele e eu nunca conversamos muito, como já mencionei em outras cartas digitais, mas desde a morte dela há um fluxo novo de comunicações surgindo entre nós. Em virtude disso, acredito que ele não está se sentindo bem e estou considerando ir a Porto Alegre novamente nos próximos meses.
Em um grupo de comunicação não-violenta do qual participo no WhatsApp, as pessoas estão se mostrando preocupadas com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Imagino que seja porque se a Rússia for contra-atacada, ela tem poderio militar nuclear e isso pode significar o fim de nossas vidas. Digo imagino porque não tive condições emocionais de perguntar. Minha mente fez várias suposições sobre o porquê as pessoas não demonstraram tanta dor relacionada a outras guerras e chacinas.
Não sei o quanto dessa preocupação é produzida pela presença constante do conflito nos noticiários. Durante a faculdade, aprendi que o jornalismo faz algo chamado agenda setting, ou seja, determina os tópicos de conversa das pessoas comuns. De alguma forma, a emergência da internet e de vozes para além dos grandes meios de comunicação ajudou a espalhar um pouco quem toma decisões sobre os assuntos que serão apresentados e discutidos, mas em larga escala me parece que o cenário ainda é o mesmo: nós falamos sobre o que todo mundo está falando, o que acontece com apoio de grandes meios de comunicação (redes sociais agora incluídas aqui).
Hoje, é Rússia e Ucrânia.
Por favor não me entenda errado: não quero de forma alguma minimizar a importância do que está acontecendo no mundo. Há vidas sendo atravessadas, inclusive literalmente, porque por quaisquer motivos que sejam, pessoas escolheram entrar em batalha. Ou melhor, pessoas escolheram que outras pessoas entrem em batalha por elas: quem está morrendo provavelmente não escolheu lutar. É uma tragédia. Ou pior, é mais uma tragédia.
As redes sociais fazem um convite contínuo para que tenhamos atenção para tudo o que todas as pessoas julgam importante. Guerra, políticas violentas, desabamento, mudança climática, capitalismo, macho bilionário num foguete… De novo, não me entenda mal, de forma alguma estou questionando a importância de muitas dessas coisas. Todas elas podem render conversas potentes.
É apenas que… estou cansado.
A internet e a globalização (ainda se fala nesse conceito? Era outra grande questão da época em que eu estava na faculdade) aproximaram muitas coisas do cotidiano. Não é só no jornal que vejo sobre a invasão da Ucrânia: é a cada minuto nas minhas redes sociais porque as pessoas e instituições que acompanho se importam com esse tema. Eu tento consumir informação de fontes nas quais eu confie, mas já não sei se consigo navegar o tanto de coisas que há para saber sobre o que está acontecendo no planeta.
Não sei se alguém consegue.
Neste momento, inclusive, não sei nem se quero. É sobre isso que tenho pensado ultimamente, sobre a urgência do “precisamos falar sobre ____”. Tem muita coisa no mundo que poderia ser mudada. Que, na minha opinião, deveria ser mudada. A minha pergunta é: qual é o passo que consigo dar?
Por ora, não sei, apenas queria começar a dar forma para esse incômodo que habita minha garganta. Ainda há mais para pensar sobre ele, certamente voltarei a escrever a respeito conforme ganhe mais consciência.
Obrigado por acompanhar esse processo.
O giro da raposa
Pequenas notícias da minha vida, coisas que estão acontecendo ou que eu estou fazendo por aí.
D&D
Voltei a jogar RPG depois de alguns anos parado. Jogos de RPG estão na base da minha formação como ser humano social, me ajudaram muito a fazer amigos, facilitar grupos e explorar minha imaginação. Em meio à empolgação, compartilhei essa semana alguns stories no meu perfil do Instagram contando a história do que estamos vivendo no jogo.
Falando português no trabalho
Como parte de uma oficina sobre comunicação na empresa na qual trabalho (em inglês), aproveitei para falar com as pessoas em português durante um minuto para apresentar a sensação de estar na posição de alguém que não sabe o idioma – no caso da maioria das pessoas lá, nem como segunda língua. Foi bacana para pensar sobre que práticas e cuidados podemos ter para incluir pessoas que tenham bases linguísticas e culturais diferentes da nossa.
O Ateliê do Ninho existe
Lancei no domingo o primeiro e-mail do Ateliê do Ninho, apresentando um pouco do caminho que percorreremos nos próximos meses e também trazendo um primeiro exercício, cujos resultados serão discutidos na próxima mensagem (prevista para dia 6 de março). As portas para participar seguem abertas e é possível acessar quaisquer mensagens já enviadas uma vez que a inscrição seja realizada.
O Círculo do Ninho receberá novas pessoas
Terça-feira finalizamos o primeiro ciclo de 2022 do Círculo do Ninho de Escritores, nosso grupo de prática e diálogo sobre escrever e viver. Voltaremos a receber pessoas novas e as inscrições estão abertas no site do Ninho. Os encontros retornam no dia 8 de março e seguem sempre às terças, das 19h às 22h, via Zoom.
Assim como você, estou cansada. E faço basicamente as mesmas perguntas. Só não estou tão certa de que teremos as respostas...