As histórias na minha cabeça
No parque aqui ao lado de casa, estava sentado contemplando o movimento quando ouvi risadas atrás de mim. Imediatamente percebi que, embalado pela música nos meus fones, eu estava balançando o corpo de um lado para o outro. As risadas só podiam significar uma coisa: eu estava sendo ridículo e alguém estava rindo de mim. Ou pelo menos esse foi o meu primeiro pensamento.
Eu culpo o bullying que sofri na escola. Quando não estava ocupado com matemática, geografia ou química, estava hiperatento ao que meus colegas estavam fazendo ou observando e cuidando para continuar invisível. Ser visto, na escola, muitas vezes significava virar alvo de chacota, então melhor desaparecer.
Foi também na escola que um amigo passou a ser chamado de viadinho por andar comigo, procurou ajuda no serviço de orientação estudantil e aprendeu que, para evitar o bullying, bastava se afastar de mim. Funcionou como mágica para ele, que de uma hora para a outra parou de experimentar a perseguição dos colegas mais velhos. Mais tarde voltamos a nos aproximar, mas a lição estava aprendida.
Essa lição vem na forma de uma história: porque sou estranho, viado, frágil, as pessoas vão rir de mim, se afastar de mim, me atacar.
E nem é que eu acredite nessa história conscientemente. Quando percebo que ela está tocando no fundo da minha mente, faço o que fiz no parque e respiro até lembrar que talvez as pessoas nem estejam cientes de que estou ali, que provavelmente elas estão ocupadas com suas próprias vidas, ambições e dramas.
O problema é que essa narrativa se esgueira sem convite e, quando vejo, já está ali de novo filtrando minhas ideias e sentimentos. Eu sei que é só uma narrativa, que é só uma ideia que talvez não encontre respaldo na realidade. Não dessa vez, pelo menos, porque no passado já encontrou. Aliás, é assim que nascem as nossas crenças. Por mais que hoje elas nos bloqueiem de algo que queremos fazer (e por isso as chamamos de limitantes), elas ganharam sítio em nossas mentes porque, em algum momento, fizeram sentido e cuidaram do que era importante para nós.
O difícil é atualizá-las.
Algumas sugestões - cartas digitais
Obrigado Dalila pela sugestão de usar carta digital em vez de newsletter ou carta eletrônica. Gostei e passarei a adotar. E obrigado Adriana Lippi pelas sugestões de cartas digitais para seguir:
Marina Colerato, pela radicalidade e posicionamento político;
Climax da Bibi Haygert, por tratar de clima (mas é bem slowcontent);
Aline Valek, pela escrita delicinha.
Se tu tiver sugestões de cartas digitais para acompanhar, me manda?
Um jogo - Celeste
Neste jogo de plataforma, jogamos com Madeline, uma personagem que sofre com crises de ansiedade e de pânico, enquanto ela enfrenta os desafios de escalar uma montanha. Na jornada, ela encontra uma sequência de personagens curiosos, incluindo uma parte de si que tenta, de forma muito macabra, convencê-la a desistir porque ela “não é capaz” e “estava melhor quietinha em casa”.
Ouvi dizer que o jogo funciona como uma metáfora para a experiência de viver com depressão. Quero pesquisar mais a respeito depois de concluir, mas por enquanto posso dizer que estou muito entretido com o jogo e bastante tocado com as experiências e sentimentos da Madeline.
Recomendo.
Um beijo em quadrinhos - Super Homem, Filho de Kal-El
Saiu uma história em quadrinhos em que Jon, filho do Super Homem nos quadrinhos da DC Comics, se identifica como bissexual e beija o amigo Jay. Ao que parece, os dois estão iniciando um relacionamento afetivo para além da amizade.
Como eu queria ter lido uma história como essa quando era criança, adolescente ou mesmo jovem adulto, períodos em que estava tentando compreender não apenas quem eu era, mas quem eu poderia ser. Porque essa história existe, outras pessoas terão mais um pequeno exemplo de que é possível – e que está tudo bem – amar outro ser humano independentemente de ser outro homem.