Não uso o Twitter, salvo para ver gente pelada. Tenho lá meu perfil público, no qual sigo um punhado de pessoas e sou seguido por uma grupo de outras, mas não publico nem interajo por lá. Não entendo muito os ritmos do Twitter. Entretanto, tenho no Twitter uma conta secundária, meio que secreta, na qual sigo pessoas que se autopublicam nuas.
Quando terminei meu mestrado, elaborei um projeto de doutorado cuja intenção era investigar jovens que se autopublicam nus na internet, as relações de comunidade que se formam e, principalmente, como se dão os seus aprendizados sobre sexualidade nessas interações midiáticas nas quais seus corpos estão continuamente disponíveis para apreciação pública.
Na época (estamos falando de 2014, o que em termos de internet é quase pré-história), aplicativos como Only Fans, nos quais pessoas pagam assinaturas mensais para acessar conteúdos eróticos exclusivos de influenciadores/criadores de conteúdo, eram mais raros, então a partilha da própria nudez não me parecia diretamente associada à possibilidade de rentabilizar com a própria imagem.
Acabei não levando adiante o projeto porque desisti, ao menos temporariamente, da vida acadêmica. O interesse pelo tema, porém, continua vivo em mim.
Uma investigação semelhante, aliás, me levou ao mestrado. Eu queria entender como personagens homossexuais eram representadas em histórias em quadrinhos, depois mudei para como pessoas homossexuais eram vistas na educação. Contudo, na verdade o que eu queria era entender qual era meu lugar no mundo como um homem que sente atração afetivassexual por outros homens.
Quando vejo pessoas compartilhando imagens e experiências eróticas no Twitter, isso mexe comigo de várias formas. Parte de mim queria estar transando com tantos seres humanos quanto possível, mas já entendi que essa narrativa está mais para fantasia do que para algo que eu de fato tenha disposição de fazer. Sexo anônimo é algo que me apetece em momentos muito específicos, o que já me levou a vivenciar encontros espontâneos com pessoas conhecidas em aplicativos ou a visitar um clube de sexo (no link, um relato da minha primeira vez em um clube), porém não é algo pelo que eu esteja disposto a rearranjar minha vida para fazer acontecer. Dez anos atrás eu me permitia mais, hoje tenho preguiça.
Ainda assim, me pego olhando para o Twitter e pensando: e se fosse eu ali compartilhando imagens nuas? Tenho vontade de experimentar e já fiz um bom número de fotos em que exploro essa possibilidade. Confesso que tenho resistências com minha própria imagem, mas acho que hoje estou melhor com isso. Ensaiei uma aproximação ao mundo da nudez com meus desenhos (neste perfil do Instagram, acesse por conta e risco), embora nenhum deles seja de mim mesmo. Já desenhei a mim mesmo nu, mas não encontrei a coragem de publicar.
Às vezes penso que o que quero é a atenção, sentir-me desejado. Pode até ser, quero refletir mais sobre essa possibilidade.
Quando olho para o que me impede de autopublicar-me nu, a primeira coisa que me vem à cabeça é justamente a forma como outras pessoas me veem. Já publiquei imagens minhas com algum grau de sensualidade e corpo exposto (aqui), mas ainda assim sempre com alguma distância.
O que tenho em mente é mais exposto que isso, mais erótico – até mesmo cruzando a fronteira do pornográfico.
(Pequena nota: erótico e pornográfico é a mesma coisa, mas um é considerado refinado e aceito enquanto o outro é execrado. Esse debate rende, mas não quero entrar nele agora.)
Mesmo escrever esse texto já foi difícil para mim. Há algo delicado em desnudar as vontades com as quais convivo. Escrever a respeito me ajuda a pensar, a sentir e, principalmente, a decidir. Tem mais coisas aqui, às quais certamente vou retornar no futuro: corpo, desejo, prazer, amor, medo.
Por hoje, estou feliz em compartilhar esse tanto.
Obrigado pela leitura :)
Com carinho,
Tales
Um Tales pré-pandemia iniciando 2020 sem ideia do que estava por vir