A carta digital de hoje será uma coleção de pequenos ocorridos e pensamentos.
Voltei a estudar japonês. Eu uso um aplicativo chamado Wanikani, que é um site para aprender e memorizar kanjis, os ideogramas japoneses. Cada kanji pode ter múltiplos significados e leituras, dependendo dos outros kanjis e palavras que os circundam, o que torna o processo de aprendizagem bastante desafiador.
Desde que voltei do Japão em maio, não estava estudando mais. Agora que retomei, tinha mais de 1300 revisões pendentes. É um número grande e assustador, então decidi ir estudando aos poucos. Por enquanto, minha meta é manter o número de revisões diárias abaixo de 1300, algo que tem funcionado. Nem imagino quando chegarei a zero – está tão longe que pensar nisso já me desestimula.
Por isso mesmo resolvi brincar com objetivos mais alcançáveis. Manter o total de revisões abaixo de 1300, neste momento, é algo que considero possível com o tempo que tenho disponível. No passado levei em média uma hora para revisar 100 kanjis, então teria que dedicar 13 horas para zerar meu número total de revisões – algo que não tenho disposição para fazer no momento.
Respeitar meu próprio tempo será essencial para reintegrar o estudo de japonês na minha rotina semanal.
Comecei a praticar pole dance. Ainda não faço ideia de aonde isso vai me levar, e na verdade mal sei explicar direito como foi que aconteceu. Eu queria aprender a dançar, não encontrei nenhuma aula de dança que tenha me atraído, então lembrei que vários amigos e conhecidos fazem pole dance e resolvi dar uma chance. Fiz uma aula teste semana passada e uma primeira aula nesta semana, e agora já estou imaginando que legal é ser uma pessoa que está aprendendo a brincar com o corpo em torno de uma barra de metal presa do chão ao teto.
Eu achava que o pole dance exigia muita força nas pernas, mas parece que, na verdade, são os braços e o abdome que mais trabalham. Minha expectativa é desenvolver força e consciência corporal – e se ganhar alguns pontos extras de sensualidade, não vou negar não.
Mais de uma pessoa disse que não esperava que eu fosse fazer pole dance. Fiquei irritado com isso, confesso. Não sei que imagem as pessoas têm de mim, mas apreciaria não precisar lidar com o julgamento alheio.
Respeitar as outras pessoas e não compartilhar julgamentos sobre elas me parece um jeito fabuloso de estabelecer relações mais conectadas.
Escrever newsletters não é sobre dar conselho. Ainda assim, me peguei pensando sobre esse lugar “voz de autoridade” que nós escritoras de internet muitas vezes acabamos assumindo. Aprendi com os marketings da vida que é assim que se faz, a gente vira autoridade porque falamos sobre coisas e ensinamos e fazemos curadoria etc.
Só que às vezes eu só quero escrever e conversar com as pessoas. Acho que dá também, né? O Olhar de Raposa nasceu para ser isso, um espaço para compartilhar o jeito que vejo o mundo enquanto investigo como é essa coisa de estar vivo como um ser humano (que se acha raposa).
Respeitar o que quero fazer, mesmo quando vai na contramão do que se esperaria, está abrindo espaço para que eu não perca minha motivação de escrever.
Saí de um grupo de WhatsApp com ex-colegas da escola. Eles me adicionaram para organizar uma série de eventos celebratórios de 20 anos desde o fim do ensino médio. Não tenho boas memórias com a maior parte daqueles seres humanos, porém ainda assim titubeei até decidir que sairia do grupo.
O que vão pensar, me peguei considerando.
Eu não quero me importar com o que vão pensar sobre eu sair do grupo. O mais provável é que nem pensem ou reparem. E se repararem, bem, fica a critério deles o que fazer com a informação de que saí do grupo.
Respeitar a mim mesmo e sair de lugares que não me fazem bem é uma das minhas estratégias para cuidar da vida no momento.
Vi uma moça conversando com um cachorro. Ela queria puxá-lo pela coleira e guiá-lo pela rua, mas o cão não queria se mexer. Eis que a moça passou a explicar que estava na hora de ir para casa e que aquele era o melhor caminho, que já haviam passeado bastante e estava na hora de irem embora.
Achei fofinho.
Respeitar os animais que mantemos sob nossa propriedade é o mínimo, né?
Should I stay or should I go now? Quanto mais estabeleço novas relações aqui em São Paulo e no Brasil, mais me dá um peso de considerar que o momento de ir para o Japão está chegando. Minha vontade de ir não mudou, porém reconheço que será difícil começar todos esses movimentos de novo.
E se a vontade mudar até a hora de embarcar, desta vez pretendo me escutar, em vez de teimosamente seguir um plano traçado pelo meu do passado só porque é o plano.
Respeitar minha possibilidade de mudar de ideia é a chave para uma vida mais espontânea e conectada com o presente.
Desmarquei minha segunda aula de pole dance. Depois de fazer uma aula de spinning/bicicleta, fiquei com a perna machucada. Considerei forçar meu corpo para não perder o pique do aprendizado, porém mal conseguia me sustentar em pé. Resolvi me dar mais uns dias para recuperar as forças.
O Tales do passado, aquele que decidiu fazer a aula de bicicleta no dia seguinte à aula de pole dance e que achou que ficaria tudo bem em pedalar por 45 minutos sem aquecimento, não tinha como saber que estaria com dor e sem energia para treinar.
Respeitar como estou no momento presente para fazer minhas decisões: é isso que quero para a vida.
A carta digital de hoje foi um pouco diferente do meu usual. Estou experimentando a linguagem que quero levar adiante nas próximas semanas. Se tiver um segundo, me conta o que achou desse formato? O meu receio é que fique muito desconectado, sem um tema central – algo que tentei resolver com as costuras sobre respeito.
Obrigado!
Com carinho,
Tales
Curti o formato! O pole dance mudou minha vida, pratico há sete anos. Tomara que você consiga continuar. :)
P.S.: Cliquei em sign in pra me logar no Substack e deixar um comentário, mas não percebi que estava tentando logar no Olhar de Raposa, desculpe a ignorância se chegar algum aviso por aí.
Adorei o formato, Tales. Me senti realmente numa conversa com você. Espero que se recupere bem das dores.