Dentre todas as pessoas com as quais dormi junto, um número que chamaremos de “amostra estatisticamente relevante”, eu sou a que mais demora a pegar no sono. Por anos, achei que meus parceiros de cama é que adormeciam rápido. Embora isso seja verdade, já que de fato eles adormeciam facilmente, demorei a perceber que talvez eu é que estivesse fora da curva.
Talvez seja algo muito da experiência humana achar que o resto das pessoas funcionam igualzinho a nós só porque são também humanos, como se oito bilhões de viventes não fosse significar uma variedade danada.
Ou talvez seja mais uma coisa que é minha e que eu acho que é de todo mundo. Difícil dizer ao certo.
Nesses últimos dias andei conversando sobre sonhos e aí disse que sempre sonho sobre os temas que estão na minha cabeça, seja pela via da angústia ou da empolgação. Estava perto de, outra vez, presumir que todos os seres humaninhos experimentam a vida onírica da mesma forma, quando lembrei que pera lá, talvez não.
Não tem nem três anos, descobri que tenho afantasia.
Ao que parece, a maior parte das pessoas vê imagens com a mente, em maior ou menor grau. Não é o meu caso. Se alguém diz “imagine um elefante amarelo com bolinhas roxas”, eu não vejo o tal do elefante. Se alguém diz “imagine o desenho antes de desenhar”, isso sequer faz sentido pra mim. Aquelas meditações “visualize uma sala, qual é a cor da porta?” sempre me deixaram irritado esperando que a pessoa corrigisse a incoerência de não haver me informado sobre a cor da porta.
Se eu tenho um olho da mente, ele dorme tão fácil que nunca acorda por aqui.
Talvez ele acorde enquanto eu estou dormindo. Meus sonhos são vívidos – respondendo à pergunta mais comum que recebo quando conto sobre afantasia, sim, eu sonho com imagens – e cheios de ocorrências, embora elas no geral sejam muito pautadas na vida real. Não tenho memória de haver sonhado com qualquer coisa que eu já não tivesse visto na vida. Minha consciência parece estar livre de monstros e surrealismos imaginários.
Minha mente é conceitual. Recito textos, ensaio palestras e guardo relações entre ideias na forma de um monólogo (às vezes diálogo) interno. Essa voz interna – que descobri que alguns humanos também não têm – não fica o tempo inteiro falando. Ela aparece mais quando estou sozinho. Quando minha atenção está focada, ela silencia e me deixa viver. Ouvi dizer que é diferente para outras pessoas.
Houve um tempo em que trabalhei como moderador em uma comunidade online de jogadores. Meu trabalho era avaliar imagens, textos e áudios para garantir que nada ferisse as regras da comunidade. Vi coisas horríveis, pois humanos compartilham coisas horríveis na internet, mas elas não me perseguem. Entretanto, ainda hoje, anos depois, consigo reviver algumas das mensagens de voz que ouvi.
Tudo isso pra dizer que, tanto quanto possível, tem sido importante para mim lembrar que outros humanos podem funcionar de formas inimaginavelmente diferentes do que estou acostumado a pensar que é o normal.
Tem sido importante também tentar dormir melhor e mais rápido, mas isso ainda é um trabalho em andamento…
Um quadrinho - Sandman, de Neil Gaiman
Quando a DC Comics procurou Neil Gaiman e entregou para ela a possibilidade de fazer o que quisesse com algum de seus personagens de segunda linha, Gaiman escolheu o Sandman – na época um herói que usava uma arma com pó sonífero para combater o crime (aliás, no futuro ainda quero discutir essa ideia de combater o crime com violência). O resultado: ele criou todo um universo místico complexo e fabuloso que se estendeu por 75 edições (e tantos outros títulos derivados) e é uma obra prima dos quadrinhos.
Uma das formas com as quais eu meço a qualidade de uma obra de ficção narrativa é se eu sinto algo pelos personagens. Como meu corpo reage quando um personagem está triste? Como eu me sinto quando um personagem que eu acompanho falece? Quando ele fica esperançoso, feliz, quando alcança uma conquista? Se a arte me faz sentir o mesmo que sinto com meus amigos, passa no meu critério de qualidade.
Um seriado - Being Erica
Já que estou dando referências de obras que me impactaram, Being Erica é o meu seriado da vida. A Erica é uma mulher de 32 anos que carrega várias frustrações na vida, até que ela conhece um doutor que tem o poder de fazê-la voltar no tempo para reviver esses momentos. O seriado traz essa sacada brilhante porque mostra a Erica o tempo inteiro tentando mudar suas ações sem antes ter aprendido com elas, o que gera tanto o humor quanto o drama.
Ouso dizer que aprendi muito sobre como viver assistindo a esse seriado.
Um estudo - japonês
Eu estudo japonês e, como pretendo ir para o Japão num futuro próximo, achei por bem experimentar o que acontece quando olho mais de perto para o idioma compartilhando algumas coisas – até para ver se assim aprenderei melhor. Minha intenção aqui é principalmente brincar com os kanjis e seus significados.
Kanjis são símbolos ideográficos. Eles têm múltiplas leituras e podem significar coisas diversas dependendo do seu entorno. Kanjis são o terceiro “alfabeto” da língua japonesa. Os outros dois alfabetos são fonéticos: o hiragana (utilizado para palavras ou elementos gramaticais japoneses) e o katakana (utilizado para palavras estrangeiras ou destaques). É possível escrever tudo em japonês usando apenas hiragana, mas os japoneses não fazem isso.
私はタレスです。=> essa frase significa “Eu sou/me chamo Tales”.
O kanji que representa “eu” é este: 私. Ele poderia ser escrito em hiragana: わたし, mas quem já fala japonês costuma dizer que a leitura com kanjis acontece mais rapidamente do que lendo as letras em hiragana uma por uma. Percebo isso com os poucos kanjis que já aprendi, então acho que daqui uns anos estarei voando pela leitura. Ou assim espero.
Nessa frase, temos também タレス, que é lido TA RE SU – japonês não possui o som de L e o S nunca fica sozinho, embora o U do SU não seja super pronunciado.
Minha intenção aqui era começar mostrando kanjis, como forma de estudo, mas achei por bem fazer essa pequena introdução antes de qualquer coisa. Assim, se tu acompanhar meus escritos, terá uma certa noção de progressão nessa conversa sobre a língua japonesa e meus deslumbres com ela. 😀
É a primeira vez que encontro outra pessoa que conhece e se relaciona com being erica como eu 🤗❤️