Considero uma verdade da comunicação não-violenta a ideia de que é muito mais fácil ser uma pessoa centrada e cuidadosa com estranhos do que com aqueles que estão mais próximos de nós. Quanto mais envolvida emocionalmente estou com alguma pessoa ou situação, mais difícil é para mim lembrar que estou lidando com outros seres humanos que, assim como eu, também têm necessidades e provavelmente estão fazendo o melhor que sabem para cuidarem de si.
Essa semana, vi no Instagram uma moça falando sobre reatividade ao percebermos algo que nos desagrada e gostei bastante do que ela propôs: três lentes a partir das quais podemos tentar interpretar a situação.
A primeira lente é a da curiosidade. Olhar generosamente para a outra pessoa e também para mim mesma em busca de o que está acontecendo ali. O que é fato concreto e o que é interpretação? O quanto do que está acontecendo está de fato acontecendo ali ou já é parte da minha narrativa sobre os eventos?
Fiquei indignada com algo que ouvi, algo que só pode ter sido uma provocação? Pois que eu ponha o chapéu de detetive e investigue por que estou me sentindo incomodada, por que considerei que a pessoa está me provocando, o que pode estar acontecendo na vida dela para que tenha falado o que falou.
A segunda lente é a da compaixão. Nós seres humanos somos plantinhas com emoções complexas, estamos todas fazendo o que podemos e tentando sobreviver num mundo difícil. Tudo o que sentimos é maravilhosamente único, mas parte da experiência humana, então não estamos sozinhas por mais que às vezes nos sintamos assim.
Compaixão é agir para acabar com o sofrimento, então a pergunta aqui é: o que poderia tornar a vida mais maravilhosa para todas as pessoas envolvidas? Não só para mim, não só para a outra pessoa. Para todas nós.
A terceira lente é a da coragem. Qual seria a coisa mais valente a ser feita? É sustentar o campo para que a outra pessoa possa desabafar, mesmo que seja algo com o que não concordamos? É reconhecer nossa participação no que a outra pessoa está sentindo, mesmo que não seja nossa culpa? É expressar o que está doendo, mesmo com dúvidas se seremos ouvidas?
Pausa para dizer que a
publicou um texto fantástico sobre a vulnerabilidade que experimentamos ao aprendermos outros idiomas, e de quebra tem um exemplo fantástico da lente da curiosidade. Recomendo demais a leitura: Da palavra ao abismo.Domingo passado marquei um encontro com um moço que conheci pelo Tinder. Estava em Porto Alegre visitando minha família e amigas, então combinei de nos vermos no Parque da Redenção, que é um dos cartões postais da cidade. Conforme o uber que peguei foi chegando lá perto, reparei na grande concentração de diversas bandeiras do orgulho LGBTQ+ que estavam estendidas, carregadas por transeuntes e à venda.
Sem saber, havíamos marcado um encontro no mesmo dia, horário e local que a 26ª Parada do Orgulho de Porto Alegre. Fiquei muito feliz, pois em junho deste ano havia perdido a Parada de São Paulo durante uma outra viagem para Porto Alegre.
Caminhamos pelo parque, sentamos em um café para comer e conversar mais, e aí quando ouvimos os carros de som passando, decidimos seguir a multidão.
Dançamos, rimos, beijamos, pegamos chuva. Celebramos.
Uma multidão curtindo junto a coragem de sermos quem somos.
Com carinho,
Tales