Bom dia,
Na carta digital da semana passada, comentei sobre como minha chegada em Tóquio não seguiu meus planos. Eu não estava muito bem e acho que isso ficou claro no texto, mas hoje gostaria de contar uma série de pequenas coisas que mostram um outro tom das experiências que estou vivendo aqui no Japão.
Comprei uma televisão e uma estante pela internet e elas chegaram em casa na quarta-feira de noite. Corri para montar a televisão, empolgado para testar a tal da Google TV, mas não consegui colocar os pezinhos dela porque não tinha chave de fenda. Tentei com tampa de caneta, clips, chave, faca, cartolina dobrada e tudo o mais, mas colocando a televisão em pé só no dia seguinte.
No sábado o moço da IKEA (que eu falo aikia, mas que no Japão eles chamam de i-ke-a) veio aqui montar minha estante. O site dizia que precisavam duas pessoas e ferramentas especializadas, então contratei o serviço de montagem. Ele chegou, estendeu um tapete no chão e começou a montar. Fiquei abismado com a velocidade com que ele preparou e montou tudo, com certeza o resultado de muita experiência.
Agora tenho uma estante na horizontal e a TV não está mais repousando no chão. Ainda quero fazer outras coisas no apartamento, arranjar uns quadros e tal, mas cada vez mais me sinto em casa.
É tão bom sentir assim.
Fui numa loja de roupas (Uniqlo) e experimentei um casaco. Achei o tamanho grande, então pedi para uma atendente se havia outros tamanhos. Um colega dela começou a pesquisar no celular e nós dois continuamos conversando em japonês. Ela elogiou a cor do meu cabelo, eu agradeci, ela perguntou de onde eu era, falei Brasil. O colega dela parou de pesquisar, virou para mim e começou a falar em português. Ele era brasileiro também!
A partir daí fiquei conversando em português com ele e em japonês com a moça. Em certo momento, ela disse a frase clássica que todo estrangeiro que sabe um nadinha de japonês um dia vai ouvir (ou talvez todos os dias): nihongo jouzu desune~ – que significa mais ou menos “nossa como você fala bem o japonês”. Pessoas japonesas dizem isso com muita frequência, tanto que já virou piada recorrente entre estrangeiros. Quando estive aqui da outra vez, ano passado, só ouvi isso uma vez, mais para o final da minha estadia, então decidi aceitar como um elogio sincero.
Depois que saí do provador de roupas, a cada vez que eu passava perto lá, a atendente ficava acenando efusivamente. Achei fofo o tanto que ela se disse espantada e maravilhada ao ouvir duas pessoas conversando em português.
Esse mundo tem tantas coisas bonitas. 😊
A escola está sendo intensa, mas sinto que estou aprendendo e praticando bastante. Fiz já dois testes de kanji nos quais precisava acertar a leitura deles e tirei nota máxima em ambos. Fiquei bem contente! 嬉しかったです。
Na minha newsletter em inglês sobre minhas aventuras no Japão, comentei sobre o tanto de coisas escondidas verticalmente em Tóquio. Perto da minha casa há uma estação de trem e metrô que é simplesmente gigantesca, ainda me perco nela com muita frequência.
Pois não é que no alto do prédio tem um terraço com alguns restaurantes, lugares para sentar e até um jardim? No meio da selva de pedra, uma lindeza. Já virou um dos meus lugares favoritos nos arredores.
Estava em casa me preparando para estudar e trabalhar quando reparei que meu telefone estava tocando. Ele fica sempre no silencioso, mas estava ao meu lado e vi quando a tela acendeu.
Inclusive, pausa para contar: mais de uma vez os entregadores e funcionários de lojas me ligaram e eu não só atendi, como conversei e entendi as conversas em japonês. Minha confiança no idioma está crescendo!
Atendi ao telefone, era um amigo que conheci na escola onde estudei ano passado. Ele estava pelo bairro e tinha um compromisso por aqui duas horas mais tarde, então perguntou se podia esperar aqui em casa. Eu disse sim e ele veio, ficamos conversando e estudando, aí depois ele foi embora e fiquei aqui pensando no quanto faz sentido para mim que minha casa seja um local onde pessoas queridas podem visitar quando estão por perto.
A vida está se arranjando.
Muito obrigado pela leitura e companhia.
Com carinho,
Tales
Que delicia de texto :) senti o quentinho no peito do Japão estando a (sei lá quantos) quilômetros de distância.
A vida se ajeita aos poucos. Que experiências boas de se ouvir. Beijos