Eu li Write Useful Books, de Rob Fitzpatrick, e cá estou cumprindo a previsão que ele propõe: bons livros ganham vendas porque são recomendáveis. O argumento central do livro é que há dois tipos de não-ficção, um que serve para entretenimento (por exemplo, atiçando a curiosidade com informações bacanas) e outro que serve para resolver problemas. O livro é sobre o segundo tipo.
Sempre que leio algo interessante sobre como fazer melhor algo que já fiz ou quero fazer, sou tomado por um impulso produtivo que frequentemente ganha a forma de um projeto novo. O lado ruim disso é que às vezes tenho dificuldade em coordenar todas as coisas empolgantes que gostaria de criar e viver e acabo perdendo o pique para muitos desses projetos. Esse inclusive é um tema sobre o qual ainda pretendo escrever aqui no Olhar de Raposa – o que prova meu ponto sobre projetos e conclusões.
Eu não acho esta newsletter útil.
Inclusive, utilidade não é a principal característica das newsletters (e livros) que leio. De algumas, até sim – como a Modern Teams, que envia semanalmente uma lista de empresas com vagas para trabalho remoto, flexível e com mais autonomia –, mas muitas vezes quero apenas chegar pertinho do jeito como outras pessoas pensam, descobrir outros modos de existir no mundo.
Nos anos iniciais do Ninho, eu ensinava que bons textos ofereciam pelo menos um desses três:
informação
entretenimento
experiência estética ou intelectual
Há bastante tempo que não penso nesses termos e já nem sei se concordo com essa separação. A utilidade, na forma definida pelo autor do Write useful books, tem a ver com resolver problemas. Imagino que caiba como um tipo muito específico de “informação”.
O que escrevo aqui não é sobre resolver problemas. Aliás, talvez esteja mais para perceber problemas, já que me interessa estranhar e compartilhar o modo como vejo e penso o mundo. Talvez isso caiba em experiência intelectual? Adoraria saber o que tu acha e, principalmente, o que te motiva a acompanhar newsletters por aí.
Habita em mim um conflito ético sobre como levar a vida. Não sei se os movimentos que faço são úteis para o mundo no qual vivo, tampouco se são suficientes. Vejo amigas empenhadas no ativismo ambiental e me percebo pouco engajado. O mesmo acontece em relação a outros grandes temas, como racismo ou mesmo homofobia – para não dizer que estou afastado apenas daquilo que não me toca diretamente, agora e de forma muito evidente.
Tenho plantada em mim a ideia de que eu deveria estar fazendo alguma coisa em relação a tudo isso. Essa mesma ideia está em conflito com outras noções, como a de que a vida não é útil ou que uso o poder que tenho para intervir no que posso.
Como aqui é um espaço no qual me proponho a mostrar essas narrativas e discursos que informam meu olhar, achei por bem compartilhar, mesmo que não tenha conclusões a respeito. Se eu tivesse conclusões, talvez essa leitura fosse mais útil, mas o título da carta eletrônica já sugeria que esse não seria o caso, né?
Para esta newsletter, tenho muitas ideias. Nas mensagens anteriores, compartilhei um pouco sobre o idioma japonês. Aqui escrevendo já havia até esquecido disso, o que é um perfeito exemplo da minha animação (muitas vezes fugaz) com projetos. Tenho partilhado referências, pois essa é uma das coisas que mais gosto nas newsletters que leio – e pretendo continuar com esse hábito. Por esses dias, enquanto nadava, pensei em adicionar por aqui textos de ficção, talvez em formato folhetim, talvez apenas fragmentos.
Quando mantinha ativamente a newsletter do Ninho de Escritores com mensagens semanais, com frequência caía de volta na ideia de que as mensagens precisavam ser úteis, aí propunha desafios, dicas, referências etc. O que tenho procurado com o Olhar de Raposa é: se não utilidade, então o quê?
Mil coisas, mil ideias, mil possibilidades. Por ora, tenho escolhido não me comprometer com nenhuma delas e com nenhum formato específico, a fim de que esse espaço se preserve como um lugar onde não preciso ser útil, onde eu possa realmente colocar em palavras algumas coisas que estão na minha cabeça e me deleitar com o que acontece quando elas entram em contato com outras pessoas. Esse segue sendo um exercício potente e agradeço muito a quem tem me acompanhado e partilhado seus olhares também.
Uma imagem - Japão
Vai chegar o dia em que compartilharei minhas próprias fotos do Japão 😊
Outra Newsletter - Outra Cozinha
Falei dela em uma mensagem anterior e quero falar de novo porque este texto discute os prazeres aos quais a gente se permite, o que é um tema que com frequência me importa.
Mais Outra Newsletter - Mari Pelli
A Mari, pessoa incrível que tenho a sorte de conhecer, escreve como quem brinca e escreve também como quem tantas outras coisas. Se tu ainda não a conhece, dá uma bisbilhotada no que ela já escreveu. É daquelas recomendações de coração quentinho.