Notas e esquinas do Japão
Bom dia,
Hoje será uma cartinha curta, pois a semana passou e não me organizei a tempo para escrever com o cuidado que gostaria.
Nesta semana comecei a escrever um pequeno diário pessoal e tem sido gostoso jorrar as palavras sem me preocupar com editá-las. Meu objetivo é escrever todos os dias, não importa tamanho nem tema. O que tem saído por enquanto são questões sobre relacionamentos, expectativas e sentimentos. Aos poucos o Japão está aparecendo por lá também. Será uma fonte extra de reflexões e olhares para compartilhar por aqui no futuro.
Aprecio esse compromisso de enviar minha carta digital todas as semanas quase tanto quanto aprecio receber respostas e comentários. Obrigado a quem reagiu à carta com fotos na semana passada, em breve enviarei mais mensagens como aquela, pois há um tanto indescritível que gostaria de mostrar – para não mencionar o tanto que não fotografei nem registrei e que certamente já se dissolveu entre outras memórias.
De segunda para terça, minha garganta inchou e ficou dolorida. Minha amigdalite decidiu retornar e me acamou por três dias. Bem, acamou mais ou menos, porque na quarta-feira não fui à aula e saí para caminhar, percorri 12 quilômetros. Na quinta me forcei a ficar em casa, porque pé de vento como sou, queria estar em qualquer outro lugar menos na pele de uma pessoa adoecida.
Está sendo um exercício de aceitação sobre o fato de que a vida não é nem tem que ser como eu quero, e que às vezes é tempo de se recolher até um novo ciclo saudável se apresente.
Aliás, fui a uma clínica de oftalmologia japonesa e comprei remédios numa farmácia. Ninguém falava inglês. Numa mistura de tecnologia (para ler e traduzir os textos complexos da receita médica), japonês em formação e muita boa vontade e mímica, deu tudo certo.
Quero aprender mais japonês para poder participar melhor da vida que existe ao meu redor. A cidade me acolhe mesmo sem essa compreensão, mas pensa que incrível será poder descrever sintomas, sentimentos e possibilidades de vida em mais um idioma?
Estava sentado em uma esquina com dois colegas de escola. Olhei para uma uma placa e ela dizia 新小川町, que se lê como “shin-ogawamachi”. Era o nome da rua. Comentei que sabia o que significava cada um dos kanjis, especialmente porque o primeiro kanji está no nome da cidade em que moro, 新宿 (Shinjuku). Alex, um dos meus colegas, comentou que talvez aquele fosse o mesmo kanji utilizado no nome dos trens bala, os shinkansen. E é mesmo: 新幹線.
Kanjis são, sem dúvida, a parte mais difícil do idioma japonês. Ao mesmo tempo, são incrivelmente empolgantes, porque proporcionam esses momentos de descoberta e experimentação.
Em tempo, os kanjis significam: 新 (novo) 小 (pequeno) 川 (rio) 町 (cidade/bairro). O que significam em conjunto, já não sei. 😊
Tenho uma teoria com músicas que me importam: elas voltarão a mim com o tempo. Aconteceu de novo há algumas semanas, quando reencontrei uma banda que eu amava e que havia esquecido com o tempo. Agora estou de novo ouvindo sem parar, em especial o álbum que mais gosto. A banda chama Stars e o álbum In our bedroom after the war. Recomendo demais.
Muito obrigado por estar aqui comigo 😀
Com carinho,
Tales