Não sei dizer quando começou meu cansaço em relação às redes sociais na internet. O Instagram, em parte porque trabalho com ele para ganhar dinheiro, ultimamente tem sido a rede à qual dedico mais tempo. Outro dia tentei o Twitter, mas cansei depois da primeira muralha de tuítes da mesma pessoa falando sobre mil coisas aleatórias.
O sentimento que define minha relação com redes sociais é preguiça.
Repare que não é preguiça das pessoas, necessariamente, mas dos jogos aos quais nos submetemos, muitas vezes sem nem perceber.
Uma das ideias centrais para as redes sociais é a busca por uma audiência maior, sempre crescente, para que nossa voz seja ouvida pelos outros. Enquanto Facebook chamava as pessoas de “amigas” (e ponho o verbo no passado porque não abro o dito cujo há meses), Instagram e afins trabalham com a lógica de “seguidores”.
Algumas coisas que eu gostaria de desempacotar aqui: tecnologia, capitalismo, colonialismo.
Quando pensamos em tecnologia, podemos considerar a prensa de tipos móveis, cuja invenção foi atribuída a Gutenberg em meados de 1450, como instrumento fundamental para a mídia de massas. A partir daí, vozes singulares puderam ser ampliadas e repassadas para além dos limites do espaço físico, já que quem escreveu não precisava mais estar lá para se comunicar, e do tempo, já que as palavras ficam registradas e podem ser lidas ou reencenadas anos após a morte de quem as concebeu.
O livro e depois jornais, rádios, cinemas e televisões compartilhavam uma mesma lógica: um enunciador falando para uma multidão de leitores, ouvintes, espectadores. Publicar era, sem dúvida, uma manifestação de poder – em geral associada a alto custo material, portanto para muitas pessoas era de difícil acesso.
Entra em cena a internet. Durante minha graduação em jornalismo, quando o YouTube estava começando a crescer e ganhar força, a principal discussão acadêmica sobre tecnologia era se o jornalismo morreria a partir daquele momento em que mais pessoas ganhavam o poder de publicarem, livres das restrições materiais anteriores – ninguém mais precisava de uma prensa gigante, pagar pela tinta e papel etc. – e, portanto, das estruturas regulatórias sobre quem pode dizer o que.
Um exemplo disso é a proliferação de livros autopublicados, geralmente chamados de independentes. Eles são independentes porque não há ninguém por trás de um selo editorial ditando se esses livros têm valor suficiente ou não para serem tornados públicos. A métrica para esse valor, em geral, é financeira, mas chegarei a isso num instante.
Quanto mais acessível a internet, mais pessoas passaram a participar do jogo da publicação. Surgiram fóruns, blogs, canais, uma miríade de espaços de troca que, aos poucos, foram se aglutinando em torno de redes sociais novamente controladas por corporações capazes de definir como funcionam algoritmos que distribuem os conteúdos publicados. O controle, agora, não é exercido sobre a publicação em si, mas sobre os meios de distribuição.
Daí entramos na questão do capitalismo. Uma das lógicas centrais do pensamento capitalista é a ideia de crescimento infinito do lucro, do alcance, do impacto. Não vou discutir aqui os porquês de essa ideia ser perigosa – além do fato de que vivemos em um planeta com recursos finitos.
Uma das coisas que mais me peguei pensando, nos últimos anos, em especial a partir do ponto em que criei o Ninho de Escritores, foi sobre como torná-lo maior, alcançar mais pessoas, ter impacto, mudar vidas. Essa é uma busca estimulada pelas redes sociais, essas ferramentas de gerar ansiedade e satisfação instantânea para que continuemos retornando, consumindo conteúdos e oferecendo nossos dados para que sejam transformados em lucro.
Quando paro para pensar sobre o porquê de querer que mais pessoas saibam do Ninho, a resposta vem prontinha a partir de uma ideologia que formou nossa cultura ocidental como a conhecemos: colonialismo. Eu quero que mais pessoas conheçam e vivam coisas de forma similar à que vivemos no Ninho porque acho que é super legal e que pode ser bom para todo mundo. Esse todo mundo indistinto e massificado é que não sabe ainda o quanto eles precisam dessa coisa super legal que eu conheço e que posso apresentar a elas, contanto que estejam dispostas a seguirem minha maneira de pensar e existir.
As intenções podem ser boas – e são, prometo –, mas a lógica bebe dessas fontes que considero muito perigosas, e aí me desconecto, literal e figurativamente. Eis de onde vem a preguiça que mencionei no início do texto, ela me diz que tem algo nessa relação toda que não dialoga com o que considero importante.
“Ah Tales, mas tu vive criando conteúdos que estão inseridos nessa lógica, seu hipócrita!”
Sim. Ainda não resolvi, nem sei se algum dia resolverei plenamente, essa questão. Eu quero alcançar outras pessoas, dialogar, aprender. Parte de mim adoraria ser famoso, mesmo mesmo, mas cada vez mais acho que essa vontade de fama é, na realidade, uma busca por conexão significativa e constante com outros humanos. Algo que, com o Ninho, já entendi que não me nutre o suficiente se for de mão única.
Enquanto não me resolvo com essas questões, sigo escrevendo o Olhar de Raposa, que para mim serve a dois propósitos: organizar meus pensamentos e abrir uma porta de contato com outras pessoas.
Um perfil de Instagram - @genipapos
Sigo a Geni para pensar sobre autonomia nas relações, não monogamia, anticolonialismo, pensamento crítico etc. Cada post vem com um texto reflexivo que, geralmente, me deixa bem instigado a pensar mais sobre como tenho escolhido e aceitado viver. Link.
Outro perfil de Instagram - @caminhodomeiooficial
A Ariella é uma querida que compartilha reflexões sobre educação de crianças a partir de uma perspectiva carinhosa e respeitosa. Em cada post ou story é possível ver a dedicação com que ela propõe as conversas. Recomendo demais! Link.
Ainda outro perfil de Instagram - @outrofobia
Os posts e stories do Alex Castro compartilham provocações sobre como escolhemos usar nossa atenção (o bem mais disputado pelo capitalismo contemporâneo, de acordo com o livro dele, chamado Atenção). Além disso, ele oferece cursos sobre literatura e história, as áreas de maior interesse dele. Link.
Oi Tales! Seus textos sempre ressoam algo em mim. Gosto deste contato com suas ideias por aqui. Abraço!