Eu não pretendia sair de casa. Meu plano para o domingo era sentar no sofá e jogar videogame (Bo and the Path of the Teal Lotus) até o sono bater, mas primeiro precisaria sair do buraco negro que é o Instagram. Comento o story de um amigo e ele me chama para ir a uma exposição. Na última vez em que nos falamos, quase um mês atrás, nos despedimos como se nunca mais fôssemos nos ver, o que não seria improvável porque em Tóquio as pessoas sempre estão ocupadas e daqui a menos de um mês estarei a caminho do Brasil.
Penso comigo que a vida acontece quando a gente sai de casa, então digo sim. Na verdade, a vida vai acontecer de qualquer jeito, mas é sempre bom se mover na direção de encontros com gente querida.
Desço em Higashi-Nakano e procuro a Loneliness Books, uma editora e livraria independente que faz curadoria de livros sobre questões queer e de gênero na Ásia. Eu já havia ouvido falar desta livraria e seus eventos, mas pela primeira vez entraria no espaço. Seguindo o Google Maps, subo as escadas de um prediozinho insuspeito. Abaixo a cabeça algumas vezes para evitar o teto e penso mais uma vez sobre como meu irmão não caberia no Japão. Diferente da maioria dos corredores neste país, ele tem dois metros e dez de altura.
No quarto andar, encontro a porta de entrada. Fico um minuto juntando a coragem necessária para tocar a campainha, até que noto um bilhete colado na porta dizendo “entre” (come in, em inglês). Eu entro.
A livraria é pequena e está cheia de pessoas conversando entre si. As paredes têm fotos de homens nus, no teto há toalhas com imagens eróticas, e logo na entrada há uma mesa com o livro que está sendo lançado. O livro chama-se Behind the Door, e o artista Lin Jaihang me explica que passou três anos fotografando momentos de intimidade com pessoas que encontrou ao longo dos últimos três anos em Taiwan. As fotos são lindas, provocadoras, íntimas.
Conto a ele sobre um artista brasileiro que fazia algo similar: ele tirava fotos do quarto de homens com os quais transava. Só os quartos, sem pessoas. Uma proposta diferente, mas incrivelmente similar.
Conto isso para ele pensando no quanto gosto de ver o quarto das pessoas, no tanto que isso é revelador, e me perco nos pensamentos olhando para Lin. Ele tem um sorriso bonito e os olhos cheios de vida. Quero flertar, mas não me parece apropriado. Falo dos meus planos de viagem pós-Japão e ele comenta que faltou Taiwan. “Se você fosse a Taiwan, poderíamos passar um tempo juntos”. Minha mente já fantasia futuros em que nossos encontros geram novas fotos. Brinco que ele deveria ir ao Brasil e concordamos que trinta horas de avião é muito tempo. Outras pessoas chegam e pedem para que ele autografe o livro.
Meu amigo chega depois de mim na livraria. Juntos, exploramos os livros e conversamos sobre nossas vidas. Vejo-o falar mandarim e japonês com as pessoas na livraria e me encho de vontade de estar em lugares onde consigo fazer o mesmo. Tudo ali me inspira: o encontro, a amizade, a arte, os livros, a temática.
Quero mais disso tudo na vida.
Quando deixo a livraria e me despeço do meu amigo, já tenho a semente deste texto e também de outros germinando em minha mente. Enfim estou pronto para voltar à escrita, e como é bom estar de volta.
Como o ano está acabando, os próximos textos virão apenas quando 2024 se for. Até lá, te desejo um 2025 pleno de experiências nutritivas. ✨
Com carinho,
Tales
nada como boa arte e boas conexões para se inspirar. eu também preciso e quero mais disso...
MUITO BOM! Desperta em mim tambem a voltade de publicar e divulgar as minhas escritas que guardo no bloco de notas do celular .
Uma excelente entrada de ano pra todos nos e deixamos pra tras o que não nos serve mais para vestir novas experiencias.
Beijão querido