Bom dia,
Nas duas últimas semanas, aumentei a intensidade de trabalho e, com isso, percebo de novo aquela velha história de ir me desconectando de outras coisas que me importam, coisas que necessitam de tempo para florescer e fluir. A escrita tem sido uma delas – não porque me falte o tempo para sentar e escrever, o que está faltando é anterior, é o momento do adubo e do cultivo de ideias para que virem textos, de registros para que virem relatos. Os dias têm se misturado num novelo em que distinguir os particulares tem sido difícil – como resultado, a memória e a criatividade se perdem.
Quero cuidar disso, mas também quero mandar essa carta digital hoje, então decidi aproveitar o que está fluindo em outras paragens.
Vou recomendar alguns textos que me tocaram nos últimos tempos, e recomendo não apenas os textos, mas também as pessoas por trás deles – mesmo nos períodos sem energia, gosto de ler o que elas escrevem. 💕
Começo com esse texto do
, que li antes de começar a jogar Zelda: Tears of the Kingdom. Agora que estou jogando – avidamente percorrendo o mundo de Hyrule atrás de novas descobertas e de uma atividade leve e divertida para contrabalançar o ritmo da vida – acho que o texto representa muito bem o que tanto me encanta nesse jogo.Gosto de muitos textos da Lalai no
, mas casualmente hoje li esse sobre a ocupação do espaço público, uma questão que está no centro do que tem me motivado a migrar do Brasil para o Japão. Quero viver em um lugar em que eu me sinta seguro e pertencente na rua, algo que no Brasil tive poucas chances de experimentar até hoje. No caso da Lalai, é Berlim, uma cidade que cada vez mais quero conhecer por causa dos textos dela (e porque daí quem sabe a gente se encontra e toma um suco).O texto mais recente da Vanessa Guedes no
trata sobre mania de competição, algo que é super fomentado pela maneira como as redes sociais são desenhadas para sequestrar nossa atenção e que também está conectado com a forma como aprendemos a criar nossos relacionamentos afetivos (pois infelizmente a monogamia é nossa base cultural e ela se baseia na centralização/hierarquia de afetos e relações, o que por si só já fomenta um senso competitivo que nos adoece).Eu me encanto com o olhar preciso e compassivo que a
traz na escrita dela, lindamente compartilhada no Outra Cozinha. Neste texto, ela conversa sobre os movimentos de quem sai da cidade para ir ao campo e de quem faz o movimento contrário e considera uma trajetória que parece bem contrária ao que muitas pessoas dizem querer – e faz isso com uma clareza e um zelo pelas miudezas que é sempre uma aula de escrita.Nesses tempos de trabalho e cansaço – por diversas razões, tenho me encontrado com frequência nesses momentos em que o suco criativo está raso – decidi também voltar a ler literatura. Passei muitos anos lendo não-ficção, inclusive sobre ficção, mas comecei a sentir falta de ler histórias prontas, fechadinhas, em vez das histórias em processo de construção que costumo acompanhar no Ninho de Escritores.
Com isso em mente, li Norwegian Wood, do Haruki Murakami (que uma amiga chama de Harumaki, achei ótimo). É um livro pesado que trata sobre suicídio, as vidas que seguem e a tentativa de criar sentido para a própria existência quando não entendemos o que desfez o sentido na vida dos outros. Mexeu um bocado comigo e está habitando meus pensamentos por esses dias.
Como estou sem casa fixa – ou melhor, estou morando com Ayrton, mas não tenho comprovante de residência porque nenhuma conta vem em meu nome – não posso usufruir do sistema público de bibliotecas de São Paulo e não quero comprar livros que depois deixarei para trás. Ando preferindo papel aos leitores digitais, e uma amiga querida me recomendou a biblioteca do Sesc, onde peguei o Norwegian Wood para ler.
Voltei à biblioteca para trocar de livro e queria pegar Kafka à beira-mar, também do Murakami. Cheguei lá e tinha um moço lendo o dito livro. Rondei, rondei, rondei, mas ele continuava compenetrado. Não havia outros exemplares do título, apenas aquele. Tão perto, tão longe. Até me imaginei chegando perto e perguntando se ele demoraria muito para desocupar o livro, mas achei deselegante. Acabei trazendo para casa outro livro (sobre o qual falarei depois de ler, se me sentir tocado).
No elevador do Sesc, prontinho para ir embora, as portas começaram a fechar e… Eis que o moço também estava indo embora!
Acabei não voltando para trocar o livro, talvez na próxima eu tenha mais sorte. Enquanto isso, a leitura está começando bem, então acho que terei uma relação promissora com esse novo título (se a Zelda parar de ocupar as minhas noites).
Obrigadinho pela companhia por aqui!
Com carinho,
Tales
Que honra estar na sua lista! Acho muito incrível o olhar que você traz pras coisas, sempre muito sensível e amoroso. Então, estar no meio com tanta gente boa e ainda com um texto que amei escrever é bom demais. Obrigado. :)
amigo, que prazer estar nessa lista de gente tão legal 😎 obrigada! e putz, desculpa, mas eu ri da história do Kafka à beira mar... na minha fanfic vcs dois ficaram amigos no elevador!