Por que um Ninho de Escritores?
Como vivemos o Círculo é mais importante que o que é o Círculo
Nos últimos sete anos, invisto meu tempo na manutenção do Ninho de Escritores. O Ninho nasceu como um “projeto de aprimoramento da escrita por meio do acolhimento”. Hoje, explico o Círculo, a parte do Ninho que se configura nos encontros semanais que realizamos, como “um grupo de prática e diálogo sobre escrever e viver”.
Este texto é um convite disfarçado de explicação. Sempre acho difícil contar o que o Ninho de Escritores. É uma daquelas experiências que faz muito sentido quando a gente vive, mas que parece de outro mundo quando contamos. Ainda assim, tentarei explicar, porque dessa forma quem escolher participar terá condições de decidir se o Ninho faz sentido para si.
O Ninho de Escritores é um ambiente propício para o exercício de muitas coisas: sentido, comunidade, maestria, autonomia, acolhimento, compaixão, lucidez, leveza.
Sentido
Quem vem ao Ninho quer escrever. Talvez já escreva, talvez já tenha escrito, mas a vontade da escrita sempre está presente.
Comunidade
Quem vem ao Ninho encontra outras pessoas que compartilham do mesmo sonho e o experimentam de maneiras diferentes, com qualidades e desafios próprios.
Autonomia
Participar do Ninho, ainda que um exercício em grupo, é também um ato individual, exatamente como acontece com a escrita. Exercitamos a autonomia porque, no fazer da arte, dependemos de nossa própria disposição para iniciar os movimentos necessários para que um texto nasça.
Acolhimento
Eu costumava dizer que o Ninho era um espaço seguro, mas o que significa isso? Nenhum espaço é seguro para sempre para todas as pessoas. Enquanto projeto, buscamos ser uma comunidade de prática de acolhimento. Nós tentamos, exploramos possibilidades, às vezes falhamos e aí tentamos de novo.
Compaixão
Praticar o acolhimento não significa, entretanto, que não haverá dor ou incômodo. Inclusive, justamente por praticarmos o acolhimento, por vezes esbarramos em nossa própria ignorância. Nosso esforço é reconhecer nossos limites para continuar aprendendo e tentando. Fazemos isso com um olhar compassivo. Nós oferecemos aquilo que conseguimos no momento.
Lucidez
Compaixão sem lucidez pode ser vazia. Precisamos enxergar a vida como ela se apresenta e isso implica reconhecer como estamos olhando para o mundo, assumir a nossa posição e quais experiências nos ensinaram a sermos quem somos. No Ninho, muitas vezes nos abraçamos à fantasia, porém sem esquecer que ela está enraizada na vida real.
Leveza
Planejar, escrever, editar, publicar, tudo isso parece coisa de gente séria, que baixa a cabeça e faz e acontece, não é mesmo? Não, não é. No Ninho, nós brincamos com a escrita, porque é no sabor do lúdico que encontramos nossos caminhos.
Mas o que acontece durante os encontros?
Ah, tanta coisa! Essa nem é a melhor pergunta, mas vamos lá. Durante os encontros, nós escutamos as pessoas, às vezes falamos também, lemos uns textos, escrevemos outros, de vez em quando discutimos alguma experiência de escrita ou como temos vivido o ato de escrever.
A realidade é que o Círculo do Ninho de Escritores não tem uma regra sobre como as coisas acontecem. Nós temos práticas e rituais que repetimos com alguma constância – nos escutamos ao chegar, escrevemos a partir de alguma pergunta, fazemos exercícios –, mas mais do que isso fica aberto ao mistério do que acontece quando seres humanos se reúnem. Cada encontro é diferente porque as pessoas reunidas possibilitam elaborações diferentes, e essa é a graça do Círculo.
O Círculo não é um curso
Essa talvez seja a maior frustração das pessoas que vêm e, em seguida, se afastam do Círculo. Por não ser um curso, o processo não é desenhado para fornecer pequenos pedaços de aprendizado a cada etapa do caminho. Enquanto facilitador do grupo, eu até ensino algumas coisas aqui e ali, mas o meu papel é o de conduzir e apoiar o grupo, não o de professor.
Não me entenda mal: há muito a ser aprendido participando do Círculo. Nas três horas que passamos juntos todas as semanas, temos a oportunidade de exercitar nossa atenção em conjunto sobre temas que usualmente tocam a todos nós, pois se conectam com o ato de escrever. Às vezes será uma conversa despretensiosa, às vezes será um exercício criativo.
O Círculo é uma bolha de utopia
Dentro do Ninho, nós exploramos a possibilidade de criar um mundo que consideramos melhor do que aquele ao qual temos acesso cotidianamente. Isso significa escutar e acolher diferenças, bem como entender quando passamos os limites de outras pessoas.
No exercício do coletivo, o Ninho busca ser tão inclusivo quanto possível – o que significa que vamos lutar para cuidar das pessoas que normalmente são tratadas como minorias em outros ambientes, tais como mulheres, gays, trans, negros, pessoas com deficiência etc. Ao participar, talvez você perceba que esses públicos gravitam em direção ao Ninho.
Ainda no exercício do coletivo, o Ninho se propõe como um projeto anticapitalista – entendendo que o capitalismo, junto com o colonialismo e o patriarcado, atuam como forças que atravessam nossa possibilidade de bem-viver em sociedade e, por tabela, de viver e escrever as melhores histórias que poderíamos. Quantas narrativas são apagadas por força de opressão social?
Quanto custa participar do Ninho
O Ninho não tem um preço: dinheiro não é nem deve ser uma barreira para a participação das pessoas.
Isso dito, o Ninho tem custos para existir e esses custos são cuidados por contribuições mensais feitas pelas participantes. A lógica para definir quanto contribuir é a seguinte: aquilo que for justo e possível. Justo, no sentido de valorizar o trabalho investido em tornar o Ninho o que é, e possível porque a realidade de cada pessoa é diferente.
Como parâmetro, as pessoas participantes contribuem em média entre R$ 80 e R$ 300 por mês.
Temos participantes que não contribuem financeiramente porque entendem que, neste momento, não é justo ou possível. Eu não sei a razão, ninguém me deve explicações sobre as escolhas que fazem em relação às contribuições para o Ninho.
O dinheiro arrecadado é usado de formas diversas, desde pagar contas (hospedagem de site, email etc.) até sustentar publicações e outros projetos.
Aliás, falando em outros projetos…
O Ninho é um espaço de experimentação e potência. Tem um projeto relacionado à escrita e gostaria de vê-lo acontecer? Venha participar do Círculo e então proponha no grupo, talvez outras pessoas se disponham a contribuir. Por conta dos sete anos de existência, temos alguma experiência e estrutura para possibilitar o crescimento de outros projetos.
Como participar?
Neste link temos um formulário de inscrição, junto com a data de ingresso para o próximo ciclo: http://www.ninhodeescritores.com/circulo-do-ninho/. Após se inscrever, eu entrarei em contato para conversar sobre próximos passos, e a partir daí vamos caminhando.
Simples assim :)