Se dependesse apenas de mim, tem muita coisa que eu não faria. Por mais que me considere uma pessoa aberta, há coisas que sequer me passam pela cabeça. Comer ostra, visitar um museu de trens ou assistir a filmes de terror são bons exemplos de coisas que eu poderia passar a vida inteira sem fazer e sem sentir falta.
Outra coisa que não sinto falta nem vontade são montanhas russas.
Entretanto, não querer algo é diferente de não estar disposto a experimentar, e foi assim que acabei no Fuji-Q, parque de diversões em Japão que abriga a famosa Fujiyama. Em 1996, data de seu lançamento, Fujiyama era a montanha russa mais alta (79 metros de altura) e rápida (130 km/h) do mundo. Embora hoje em dia já não detenha esses tÃtulos por uma margem considerável, ela ainda é uma experiência formidável.
Em dezembro Ayrton foi me visitar no Japão e um dos seus planos era brincar na tal da montanha russa. Enquanto o pai dele ficou esperando em uma área cheia de restaurantes, nós dois fomos em diversos brinquedos, incluindo Fujiyama. Uma atração depois da outra, fomos balançados, girados e impulsionados em diversas direções. Eu passei cada minuto tenso, agarrado nas barras de segurança e esperando pelo momento em que algo daria errado e eu sairia voando rumo à morte. Ayrton, por outro lado, soltava as mãos e gritava de excitação nas curvas e loopings.
Eu detestei cada segundo da minha experiência, mas amei a felicidade que vi estampada no rosto, na voz e nos gestos de Ayrton.
Se dependesse de mim, eu jamais iria novamente. Se depender dele, iremos em outras montanhas russas ainda mais altas e velozes.
Eu detestei, mas agora sei qual foi o meu sentimento durante a montanha russa. Sei como meu corpo reage e o que passa pela minha cabeça. Sei que não é uma experiência que me divirta, ao menos nesse momento, mas também sei que é uma experiência segura de compartilhar com alguém que amo. Principalmente, sei que esse compartilhar me ajudou a construir uma vida com espaço para imprevistos, uma vida construÃda não apenas pelos meus gostos, mas também pelos gostos de quem convidei para dividir momentos.
Aqui preciso fazer uma correção. Eu disse que se dependesse de mim, eu não iria novamente. Não é verdade. Depende de mim, e se na ocasião fizer sentido partilhar esse tipo de experiência outra vez, eu farei.
Não estou em busca de uma vida em que eu sozinho determine o que vai acontecer, o que é possÃvel e o que está fora de cogitação. A vida que quero viver é uma em que à s vezes aceitarei o desconforto pela felicidade alheia. Não sempre, mas também não nunca. Uma vida escrita a muitas mãos.
Com carinho,
Tales
É uma coisa linda poder se entregar à alegria dos outros!
Aceitar o desconforto pela felicidade alheia, ( às vezes), é um grande ato de autoconhecimento e amor.