Recentemente tenho visto na internet uma série de vídeos e piadas sobre red flags, ou bandeiras vermelhas, indicando coisas que nos alertam para o perigo.
Diz o Google que a expressão se popularizou em 2022 no TikTok.
Na minha cabeça, uma bandeira vermelha será sempre um indicativo de que o mar está revolto, perigoso e impróprio para banho.
Anos atrás, vivi um relacionamento afetivo que não estava me fazendo bem. Durante os meses de relação, eu sabia que aquela conexão não era o que eu buscava para minha vida, mas não conseguia juntar a força necessária para encerrá-la. Mantive a relação do mesmo jeito que entrei nela: seguindo o fluxo sem estabelecer limites claros com relação ao que eu aceitava. Nos meses em que estive naquele relacionamento, pensei em terminar, mas a ideia de tomar essa atitude me parecia distante, quiçá impossível. Só consegui terminar durante um momento de raiva concentrada.
A raiva é, afinal, um sentimento potente.
Encerrado o relacionamento, decidi que eu precisava de alguma ferramenta para me proteger de situações semelhantes. Como sou uma pessoa sistemática, resolvi fazer uma lista de bandeiras vermelhas: coisas que eu observaria nas outras pessoas e, se percebesse nelas, interromperia a relação antes mesmo de ela ganhar raízes.
Minha lista incluía elementos como:
A pessoa não faz esforços para manter amizades.
A pessoa grita e/ou ofende outros humanos.
A pessoa continuamente julga e fala mal dos outros.
Com o tempo, internalizei essa lista e ela me serviu de guia ao navegar minhas próximas relações. Aos poucos, fui aumentando os elementos presentes nela, fazendo um desenho a partir do contorno negativo – delineando aquilo que eu não queria para encontrar o que de fato queria.
Adoraria dizer que essa lista resolveu os meus problemas relacionais, mas não foi bem assim.
Eu me sinto atraído por personalidades fortes e tendo a me apagar para que eu possa mantê-las por perto, evitando conflitos ao máximo na esperança de continuar meu relacionamento com elas. Não é algo consciente, mas uma estratégia à qual recorro no automático. Quando vejo, já estou deixando de falar sobre algo que me incomoda ou de fazer algo que quero, na esperança de manter o interesse da pessoa por mim.
Notei isso em um relacionamento recente. Investi bastante energia em nos manter juntos, mas quando deixamos de nos ver, me senti aliviado.
Eu poderia adicionar elementos à minha lista de bandeiras vermelhas, mas talvez seguir esse mapa não seja a melhor tática. Ou melhor, seguir apenas esse mapa. Quando o mar fica revolto e as ondas bloqueiam a visão, ter um mapa não me ajuda a fazer decisões melhores.
Preciso de uma bússola.
E por acaso existe uma bússola melhor do que os próprios sentimentos?
Em vez de olhar apenas para a outra pessoa em busca do tipo de relacionamento que gostaria de viver, resolvi olhar também para dentro. Como me sinto quando estou com essa pessoa? Que sentimentos afloram?
E uma pista importante: quais marcadores de saúde estão presentes? Quando estou com essa pessoa, me sinto espontâneo, curioso e criativo? Me sinto livre, leve e conectado? Ou estou quebrando a cabeça (e o corpo e o coração) para me encaixar num molde que não me atende?
O mapa pode me dizer onde estão os icebergs e as ilhas que quero evitar, mas é a bússola que pode me indicar a direção para onde quero ir.
Essa não é a primeira vez que esqueço de usar minha bússola interna e respeitar meus sentimentos. Provavelmente não será a última, também. Sei das coisas e na hora que a maré sobe (estou todo marítimo nas metáforas hoje), esqueço elas todas, ou me falta coragem e energia para lidar.
Assim tem sido a vida.
Vou respeitar meu ritmo e continuar tentando.
A escrita ajuda, ter para quem escrever ajuda. Muito obrigado!
Com carinho,
Tales
Cada vez mais me encato com seus maravilhosos textos, eu nunca tinha pensado sobre bandeira vermelha. Mas seu texto me chamou a atenção e uma maior compreensão. Gratidão ❤️