No Parque Augusta, sentei na arquibancada e reparei três garotos chutando bola alta um para o outro e fazendo balõezinhos entre os passes, buscando evitar que ela encostasse no chão. Dali a pouco veio uma mulher e uma criança, um menino pequeno vestido com a camiseta da seleção brasileira. Ele caminhava com dificuldade e mantinha os braços curvados e a língua para fora o tempo inteiro. O menino ficou perto dos garotos e a mãe sentou num gramado próximo ao menino.
Bola pro alto aqui, bola pro alto ali, eis que um dos garotos parou a bola no chão e a rolou na direção do menino, que a recebeu com uma mão, empurrando-a de volta.
Voltei para casa feliz porque, naquele momento, o menino não experimentou exclusão nem bullying.
No vestiário da academia, depois de haver nadado, reparei que um cara estava me olhando. Ele não estava apenas me olhando no sentido “estou vendo você”, mas no típico sentido que homens gays e homens que transam com homens mas não se assumem gays se olham quando estão interessados em algum tipo de interação física com outro ser humano.
Acredita que fiquei nervoso? Por um lado, lisonjeado, não vou mentir, gosto quando alguém me olha e pensa “quero interagir sexualmente com o corpo desse outro ser humano”. Por outro lado, precisei respirar para acalmar o coração disparado e lembrar de algumas coisas simples, como o fato de que eu sei conversar com seres humanos, mesmo quando, ou talvez até especialmente, querem interagir sexualmente comigo.
Entre eu tomar meu banho no chuveiro e terminar de me vestir, porém, o moço já havia ido embora. É provável que ele tenha interpretado os meus desvios de olhar como falta de interesse. Repare que eu não estava particularmente interessado, mas os desvios de olhar foram mais por vergonha, mesmo.
Domingo fui com Ayrton, meu companheiro/namorado/parceiro/amante/vínculo (não demos um nome oficial para nossa relação, mas compartilhamos momentos de afeto há mais de dois anos), ao encontro de duas amigas para um almoço que se estendeu até o início da madrugada.
Voltei para casa enjoado, dormi mal, vomitei. Passei a segunda-feira imprestável. Ele começou o dia cuidando de mim, mas aí começou a ficar mal também. Na terça-feira eu já estava melhor, mas Ayrton não. Foi melhorar pela quinta ou sexta, enfim. Minhas amigas também tiveram graus distintos de mal-estar.
Ao que parece, comer frango não fez bem pra gente.
Um jogo de corrida chamado Buck Up and Drive ganhou algum destaque nas redes sociais essa semana. O jogo possui uma opção nas configurações que permite escolher se você quer que painéis/outdoors com bandeiras LGBTQIA+ apareçam de vez em quando ou sempre. Ocorre que jogadores que gostariam de não ver essas bandeiras não entenderam a seleção e ficaram frustrados porque estavam vendo bandeiras de arco-íris e afins.
Mais sobre isso no site Gaymingmag (em inglês).
Nessa semana resolvi dar uma flertada no Twitter com um moço que eu sigo. Tenho um perfil secundário dedicado exclusivamente a seguir contas com perfil erótico e por lá acabei chegando a esse moço, então achei que valia a pena mandar um oi usando meu perfil pessoal.
Eu pouco uso o Twitter para qualquer coisa além de redistribuir posts. Até considerei usá-lo mais ativamente, já que tem uma base mais textual do que o Instagram, mas fiquei cansado só de encarar uma muralha de pessoas falando consigo mesmas.
Inclusive, fiquei cansado do flerte também porque ai, preguiça de investir energia sem que a faísca comece dos dois lados. O moço correspondeu, mas encontrei tão pouco estímulo nas respostas que achei que não valeria a pena continuar investindo energia em acompanhar os posts dele para procurar assuntos para puxar.
Ando com vontade de voltar a jogar RPG e me peguei refletindo se valia a pena dedicar tempo para isso. Como se separar um tempo semanal para me divertir com pessoas queridas precisasse de qualquer justificativa além de querer, como se eu tivesse o dever de estar fazendo outras coisas com o meu tempo vivo neste planeta. Essa é uma questão que me acompanha há anos, o que tenho direito de viver considerando meus privilégios e possibilidades, e é daí que veio o questionamento.
Ainda estou refletindo.
O Ninho de Escritores voltou e estou muito feliz com o primeiro encontro. Acolhemos um punhado de pessoas novas, das quais umas quantas decidiram seguir neste primeiro ciclo (que terá um total de sete encontros). Fizemos um exercício bacana: escrevemos uma minificha de personagem de nós mesmos e nos emprestamos a outro participante para que escrevesse uma cena sobre nós. Foi um modo singelo de estimular algumas conexões iniciais enquanto brincamos com a escrita.
Estou empolgado com o que virá nos próximos encontros.