Há duas semanas, escrevi sobre apegos e expectativas que estavam ganhando raízes em torno de um novo relacionamento que tenho vivido. Entendo apego como a vontade de manter as coisas como elas estão ou parecem estar, cristalizando uma percepção específica em vez de acompanhar os fluxos e as transformações que todas as coisas, pessoas e relações vivenciam.
Na carta digital, falei sobre o desejo de manter esse relacionamento preservado só para mim, garantindo que nosso tempo juntos não fosse ameaçado no futuro. Um amigo querido me respondeu:
Já parou para pensar que você fica apegado ao seu sentimento em relação à outra pessoa e não necessariamente à pessoa em si?
Essa pergunta ficou revirando meus pensamentos por dias.
Realmente, não estou apegado à pessoa, mas ao que sinto e ao que gostaria de continuar sentindo. Ao passar um tempo bacana com alguém, sinto-me alegre, leve, conectado, seguro, e quero sentir mais dessas coisas todas, portanto aprendo que se eu repetir as mesmas estratégias, hei de sentir as mesmas coisas.
E aí qualquer coisa que sugere se tornar um impedimento para que eu repita as mesmas experiências se torna fruto de ansiedade e insegurança.
Desde o término do meu relacionamento com Draco no início de janeiro, me percebi sentindo explosões de ressentimento e raiva em relação a ele. Do nada, sem aviso, surgia uma onda irrefreável de sentimentos intensos acompanhados de julgamentos sobre como ele era isso ou aquilo.
Semana passada, marquei alguns encontros com pessoas que conheci em aplicativos como Grindr e Tinder. Um desses encontros estava agendado para a sexta-feira, mas quanto mais eu pensava sobre ele, mais eu tinha certeza de que não queria encontrar com o moço. Nossas conversas circulavam inteiramente em torno de sexo, algo que fez sentido para mim quando conectei inicialmente com ele porque estava com tesão. Entretanto, com o passar dos dias e do tesão, a perspectiva desse encontro começou a me incomodar.
Quando marco encontro com uma pessoa, o que quero sentir é curiosidade, empolgação, maravilhamento. Para o encontro da sexta-feira, o que eu estava sentindo era aborrecimento. Porém, desde criança fui muito bem treinado a agradar pessoas e a evitar conflitos, então pensei comigo: “tudo bem, encontro com ele, e aí no futuro tomarei mais cuidado na hora de marcar encontros”. Olha eu querendo controlar o futuro e evitando lidar com o presente.
Ao pensar sobre o encontro marcado para a sexta-feira, tive outra das minhas ondas de frustração e ressentimento em relação ao meu mais recente ex-namorado. Em meio a essa onda, lembrei da pergunta feita pelo meu amigo: e se meu apego for ao meu sentimento, não à pessoa?
E se meu ressentimento fosse em relação ao que eu fiz ou deixei de fazer, em vez de o que outra pessoa fez ou deixou de fazer?
Algo que estava solidificado dentro de mim evaporou.
Meu ressentimento não era em relação ao Draco, mas a como eu me comportei enquanto me relacionando com ele. Ciente disso, as ondas perderam força. Não há nada que eu possa fazer sobre o passado, porém posso aprender e mudar o presente. Não o futuro, mas o presente.
Entrei em contato com o moço do encontro de sexta-feira e cancelei. Expliquei meus motivos e me desculpei. Outro bloco sólido dentro de mim se desmanchou.
Nota para meu eu o futuro: ao identificar sentimentos, ideias e vontades cristalizados, por favor lembre-se que a vida é feita para fluir, não estagnar.
Com carinho,
Tales
Boa noite do Brasil Tales.
Precisamos fazer isso Tales. Boa noite amigo