Na época da faculdade, quando o Orkut ainda era a rede social preferida dos brasileiros, encontrei uma comunidade que me representava bem: “eu não pego mas me apego”.
Como bom jovem adulto com pouca experiência em relacionamentos afetivos, me identifiquei com essa ideia de criar apego instantâneo em pessoas com as quais eu não havia tido nenhum contato íntimo. Naquela altura da vida, eu havia beijado um total de uma pessoa, e por iniciativa dela, já que se dependesse de mim eu nem teria percebido que ela estava interessada.
Hoje em dia, como diria a música, já sei namorar e já sei beijar de língua, não sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também. E é nesse meu também que mora o perigo.
Logo que voltei do Japão em maio do ano passado, fui morar com o Ayrton enquanto resolvia os próximos passos da vida. A ideia era alugar um apartamento em São Paulo nos meses seguintes, mas acabei voltando para o Japão em janeiro. Durante os sete meses em que ficamos distantes fisicamente, nós dois exploramos relações com outras pessoas, mas aquela era nossa primeira vez dividindo um teto por um tempo indefinido, o que adicionou algumas complexidades nesse processo.
Lembro da primeira vez em que quis sair para encontrar com outra pessoa. Passei o dia incomodado e ansioso porque estava querendo ir em um encontro enquanto meu namorado ficaria em casa. Na minha cabeça uma voz ficava repetindo que aquilo era errado, indevido, incorreto, que meu dever era ficar em casa disponível caso meu namorado quisesse fazer qualquer coisa. Que se eu quisesse encaixar outras pessoas na vida, que fosse quando eu e meu parceiro não estivéssemos juntos.
Quando Ayrton chegou do trabalho, contei a ele como estava me sentindo e o que estava pensando. Conversamos um bocado e reafirmamos nossos princípios de liberdade e autonomia dentro da nossa relação. Depois da conversa, me arrumei e saí para o encontro com o outro moço.
Queria poder dizer que aquela conversa resolveu todas as minhas inseguranças e ansiedades, mas isso infelizmente não seria inteiramente verdade. Durante os meses em que moramos juntos, de tempos em tempos esse fantasma continuou sussurrando em meu ouvido.
Aqui em Tóquio, saí algumas vezes com um moço. Passamos os últimos finais de semana juntos e temos feito muitas coisas bacanas, como ir a um aquário, correr e descobrir restaurantes novos.
No meio da semana, ele me convidou para irmos em uma orgia nesse sábado. Eu havia acabado de fazer outro convite para o mesmo dia e horário, então decidimos seguir com a minha proposta.
Entretanto, desde o momento em que ele mencionou a proposta da orgia, eu entrei em modo parafuso, meus pensamentos girando e girando sem parar. Desde o término do meu segundo namorado, eu não me relacionei com mais ninguém além desse moço, e por termos passado os últimos finais de semana juntos, reconheci alguns padrões de apego já se manifestando. Por exemplo, alguém me convidou para algo no próximo final de semana, para o qual não tenho planos ainda, e hesitei em aceitar porque mesmo sem perceber já havia criado a expectativa de que faria alguma coisa com esse moço.
Meu parafuso sobre a orgia teve muito pouco a ver com o ambiente em si. Eu hesito em situações nas quais não sei como as coisas funcionam, mas sei que com companhia as coisas ficam mais fáceis (como foi o caso no clube de sexo, anos atrás). A principal razão para o parafuso foi meu apego. A ideia de dividir o moço com outras pessoas e de talvez não receber a atenção (dele) que gostaria durante o evento me colocou num lugar de insegurança bem forte.
Sem perceber, eu o cerquei de expectativas.
Desde o convite para a orgia, estive me relembrando o quanto quero cuidar para não amarrar as pessoas a mim, nem me amarrar a elas.
Reconheço o ciúme, a inveja e o receio que me circundam quando pessoas com as quais eu interajo intimamente estão explorando outras relações. Ao mesmo tempo, reconheço a beleza que é poder explorar essas relações de forma livre e desimpedida, algo que faço ativamente.
Pois é… Respira fundo, raposinha.
Obrigado pela leitura!
Com carinho,
Tales