O governo japonês emitiu meu certificado de elegibilidade, o documento que preciso para fazer o requerimento do visto de estudante e voltar a morar no Japão a partir de janeiro. Depois de meses de espera e incerteza, tenho a resposta e é um sim.
Essa notícia desbloqueou uma série de coisas que preciso fazer: vender/doar os móveis que estão guardados em um depósito, encontrar um local para morar no Japão, me despedir das pessoas queridas no Brasil.
Dentro de dois meses, estarei outra vez escrevendo diretamente de Tóquio.
Na carta digital da semana passada, falei sobre esse estilo de escrita meio slice of life que tenho explorado aqui no Olhar de Raposa. Minha amiga
sugeriu chamar de escrita confessional. Embora tenha ficado feliz com a sugestão, não gostei muito do nome porque me remete aos confessionários da religião católica, uma instituição com a qual tenho dificuldade em me relacionar desde criança.Semana passada fui com uma amiga ao novo Sesc 14 Bis aqui em São Paulo. Passamos pela biblioteca (inclusive trouxe para casa o livro Prazeres e pecados do sexo na história do Brasil, de Paulo Sérgio do Carmo) e lá cruzei com um livro sobre neurociência e meditação.
Estalo!
Com frequência trato minha escrita como um processo de meditação, a partir do qual deixo as palavras traduzirem os pensamentos e sentimentos que estão passando por mim, e vou observando essa existência intensa e costurando as palavras para tentar buscar algum entendimento sobre viver.
Uma escrita contemplativa.
Estou saboreando esse nome, experimentando como assenta aqui no corpo. Por ora, tenho gostado. Adoraria saber como soa pra ti. Me conta?
No domingo, dois dias antes de receber a resposta do Japão, me peguei pensando em como me sentiria caso a resposta fosse negativa e eu não pudesse obter meu visto de estudante. Fui tomado por uma angústia pesada. Tanto dos meus últimos vezes foi vivido considerando o plano de retornar a Tóquio, o possível luto desse futuro me deixou abatido.
Após alguns minutos em contato com essa angústia, achei melhor deixá-la partir. Escorreguei para longe e voltei para o presente, onde a vida seguia acontecendo no seu passo misterioso e concreto. Eu ainda não sabia da resposta – assim como não sei o que acontecerá nos próximos dois meses entre hoje e minha viagem – e se ficasse mergulhado na angústia, creio que me afogaria.
Semana passada decidi reorganizar o grupo do Ninho de Escritores no Telegram. Trata-se de um espaço para trocas e conversas sobre escrita que já existe há anos, mas que estava carecendo de um pouco mais de cuidado e carinho da minha parte.
Agora tornei-o público e tenho planos de retomar alguns projetos do Ninho por lá. Caso queira conhecer, o link de acesso está aqui.
Obrigado pela leitura!
Com carinho,
Tales
Que delícia pensar nesse futuro no Japão. Tá aí um lugar que eu amaria passar uma temporada mais longa.