Bom dia,
Nas duas últimas semanas, passei enfrentando dores de garganta. Fui a uma clínica médica e peguei antibióticos para tratar minha amigdalite, mas o retorno das dores alguns dias depois do fim dos remédios me sugere que talvez ainda haja algo aqui com o que preciso lidar. Um amigo médico conectado com práticas mais espiritualizadas me lançou uma pergunta: o que será que andei não dizendo por esses tempos?
Nesses dias de estudos e trabalhos, não tenho dedicado tanto tempo quanto acho que seria suficiente para elaborar as cartas digitais aqui do Olhar de Raposa. Como ainda quero manter a constância semanal das escritas e dos envios, hoje farei outra rodada de fotos aqui de Tóquio.
Espero que elas ofereçam mais um gostinho do que estou experimentando por aqui desde que cheguei, há quase dois meses (Já? Sim, já!).
Eu gosto muito de hamburger e, em São Paulo, os consumia com alguma frequência. Aqui, entretanto, não tenho encontrado muitas opções que ofereçam o mesmo tipo de exagero que os hamburgers com os quais estava acostumado. As porções em geral são pequenas, mesmo que não insuficientes.
Aliás, as porções aqui no Japão até agora foram sempre menores do que eu esperava, mesmo que eu não tenha saído com fome de nenhuma refeição. Parece um convite a repensar minha relação com a comida.
Recentemente me perguntaram no Instagram se aqui em Tóquio as comunicações usam muitos desenhos de mangás e animes, e a resposta é sim. Muitos cartazes utilizam o estilo típico de desenho japonês para compartilhar informações, algo que acaba tornando a comunicação japonesa muito reconhecível – o que é diferente de compreensível, já que o idioma ainda é uma barreira.
Inclusive, creio que o Japão é um exemplo muito bem sucedido de exportação cultural e como o acesso a esses elementos – nomeadamente animes e mangás – gera não apenas ideias e imagens sobre o país, mas também desejo de visitar e conhecer. Não fossem os desenhos que assisti na infância, as artes marciais (aikido) e a filosofia (zen budista), talvez hoje eu não estivesse aqui.
Ser visto – e arte é um ótimo jeito de fazer isso acontecer – é uma forma fabulosa de movimentar desejos e possibilidades.
Um elemento marcante na visualidade aqui em Tóquio, além da onipresença dos desenhos, são os contrastes entre o antigo e o novo, o tradicional e o tecnológico. Este portão faz parte dos jardins do Palácio Imperial, que faz divisa com uma das áreas mais caras da cidade, marcada por lojas luxuosas e prédios imensos. Ginza, como esse bairro é chamado, me lembrou Nova Iorque, com a exceção desses pequenos momentos em que, do nada, aparece um templo entre os edifícios.
Eu com um Pokemon. Aliás, pra quem gosta dos bichinhos, descobrir que quase todos têm outros nomes aqui causou uma pequena bagunça no meu cérebro.
Se tem uma coisa que Tóquio faz muito bem é capitalizar em cima de tendências e interesses. Há vários cafés que oferecem experiências e visualidades específicas, desde um café com temática Pokemon, como mostra a imagem acima, até cafés em que se pode brincar com cães, gatos, porquinhos, ou onde há pessoas fantasiadas cumprindo roteiros diversos – de mordomos a relacionamentos homoafetivos.
Essa viagem tem me levado a refletir sobre o que constitui uma boa viagem para mim. Ou, de forma mais ampla, uma boa experiência de vida. Cheguei à conclusão de que não me importo muito com a maior parte dos programas turísticos típicos. Museus de arte raramente me empolgam muito, exceto quando tocam em temas que me são caros ou quando tenho companhia para dialogar sobre as impressões e afetos. A mesma coisa com lugares e experiências diferentes. Parece-me que a troca é o elemento que mais me encanta. De alguma forma, eu já sabia disso, mas reencontrar esse entendimento agora aplicado a outras experiências tem sido bem gostoso.
O sistema de trens e metrôs em Tóquio é fascinante. Extenso, bem organizado e, por vezes, confuso. Nesta semana fui a uma cidade que fica a três horas de Tóquio com a mesma facilidade com que vou até a escola – algo semelhante a ir do centro de São Paulo até Jundiaí, por exemplo, ou de Porto Alegre a São Leopoldo, com a diferença de que a malha ferroviária aqui parece ser muito melhor distribuída tanto na cidade quanto nos arredores.
Aqui existem múltiplas empresas de trem e metrô, o que às vezes implica em sair pelas catracas para entrar novamente, por vezes aumentando o custo de viagem. Custo esse que, aliás, é definido pela distância percorrida: quanto mais estações, geralmente mais caro é o bilhete. Para quem usa cartão de metrô como eu, passa-se o cartão ao entrar e de novo ao sair, que é quando o custo da passagem é debitado.
Tirei essa foto voltando para casa de noite e pensando sobre o quanto me sinto seguro nessa cidade, mesmo sozinho de madrugada. Já sinto falta disso e ainda faltam uns bons meses para meu retorno ao Brasil…
Shibuya é um dos pontos mais agitados da cidade, com luzes brilhantes e gente falando e músicos tocando e tantas outras coisas. É o ambiente que mais me lembra São Paulo, embora SP não tenha essa luminosidade toda – acho que tem a ver com a proibição de outdoors.
Mencionei anteriormente como tem sido importante dividir experiências com os novos amigos que fiz por aqui. Um exemplo bobo, porém significativo, é essa foto, em que encontramos pichações sinalizando um cruzamento entre LGBTQ+ e Black Lives Matter, dois temas que pouco vi abertamente aqui pelo Japão até o momento.
Antes das aflições recentes da minha garganta, estive experimentando várias bebidinhas diferentes, incluindo esse wine soda, ou seja, refrigerante de vinho. Não recomendo, mas a experiência foi curiosa.
Comida, aliás, é outro tópico importante por aqui. Embora exista em abundância, estou começando a reconhecer algumas similaridades entre os pratos que experimentei até agora. Com exceção dos evidentemente salgados, como esse lamen, a maioria compartilha um tempero sutil e adocicado, distante dos sabores intensos com os quais estava acostumado no Brasil.
Aos poucos, a saudade da comida de casa tem aumentado…
Bem pertinho da escola, uma escadaria com alguns espaços para orações. Ao lado, prédios, hospitais e a vida agitada de sempre.
Daí um dia fui em um bar – izakaya, como é chamado aqui – e esse foi o menu que recebi para fazer meus pedidos. Se já é difícil entender japonês escrito bonitinho, imagina assim todo estilizado!
Muitos prédios em Tóquio escondem pérolas. Lojas especiais, restaurantes bacanas, mil coisas que a gente só descobre conhecendo, recebendo indicação ou procurando. Aqui, por exemplo, é uma foto do dia em que fui a um karaoke com meus amigos. Não estávamos encontrando a entrada, até que reparamos que o karaoke ficava no sétimo e oitavo andares.
Hoje a mensagem foi um pouco truncada e sinto muito por isso. Tóquio tem me oferecido tantos estímulos e reflexões, porém tenho encontrado dificuldade de processá-las a tempo de escrever sobre elas. Enquanto isso não acontece, vou compartilhando essas imagens e roteirinhos.
Como sempre, se tiver perguntas ou sugestões sobre o que gostaria que eu comentasse sobre essa aventura japonesa, basta me responder por aqui.
Com carinho,
Tales
Adorei a colcha de retalhos de palavras e fotografias com pedacinhos da sua estadia por aí. Deu a sensação de estar lendo um desses caderninhos de viagem, em que a gente registra pensamentos soltos, detalhes que passariam despercebidos, coisas pequenas que não sabemos ainda costurar com o resto da vida mas que não queremos esquecer. Coisa preciosa mesmo. Melhoras pra você 😘
Melhoras! Aliás, sobre hambúrguer, eu lembrei do The Great Burger, perto de Harajuku, numa das áreas que acho mais charmosas na cidade por aí. E um lugar que eu adoraria voltar é pra pistinha esfumaçada do Bonobo. Se um dia quiser dançar, lá sempre pode ser uma boa pedida e é super despretensioso.