Estou em Tóquio, finalmente assentado em meu apartamento, este que será meu lar pelos próximos sete meses. Após 30 horas de viagem e um dia inteiro revirado de sono porque meu corpo achava que ainda estava no Brasil, acho que neste sábado acordei bem.
Digo acho porque ainda tem um monte de coisas para organizar, inclusive mentalmente. Estou escrevendo essa mensagem no sábado de manhã – do Japão, que ainda é a sexta de noite no Brasil, então tecnicamente estou dentro do prazo que estipulei para mim mesmo de enviar o Olhar de Raposa nos sábados pela manhã.
Na última vez em que escrevi sobre mudança, duas semanas atrás, estava concentrado em pensar sobre o partir. Desta vez quero refletir sobre o ato de chegar.
Mudei de casa algumas vezes. A primeira, de Porto Alegre para Goiânia, foi lá em 2010. Na época eu ainda vivia dentro do armário da sexualidade, meus relacionamentos afetivossexuais reclusos nos bastidores da minha vida cotidiana. Em Goiânia, decidi que queria que tudo fosse diferente. Queria que eu fosse diferente. Mudar de cidade, para mim, era uma chance de recomeçar do zero.
Ocorre que nunca é do zero, né?
Essa é uma coisa que levei algum tempo para aprender em Goiânia. Levei comigo meus vícios, medos e vontades, então o zero nunca esteve lá. Nem nunca estará, ouso dizer.
Quando mudei de Goiânia para São Paulo, em 2014, fui com uma perspectiva um tanto mais madura. Estar em um lugar novo me permitiria estabelecer novas relações e frequentar ambientes distintos, isso sim algo poderoso que me abriria a possibilidade de me redesenhar – desde que não esquecesse que a borracha deixa marcas no papel. Quem eu fui não sai de mim, mesmo que só nas lembranças.
Agora aqui em Tóquio me peguei pensando de novo nesse ir e vir, ser, deixar de ser e tornar-me. Meu desafio do momento é mobiliar o apartamento em que estou vivendo com o mínimo necessário para me sentir em casa. Coisas bobas e coisas importantes. Das bobas, lembrar que preciso aprender a usar o chuveiro e a banheira, que preciso ter papel higiênico e entender as rotas que vão e vêm até minha casa. Das importantes, como separar o lixo, como pegar o metrô, onde fica a prefeitura do bairro na qual preciso cadastrar meu endereço.
Em meio a tudo isso, tem eu. Quem sou eu em Tóquio?
Isso é algo que eu ainda não descobri. Ou melhor, ainda não criei e construí. Longe de mim defender aquela ideia passada de que identidade é algo que se encontra. Identidade é algo que se constrói na prática, todo o resto é explicação e narrativa em cima do que está acontecendo na realidade.
Enfim.
Quero e vou escrever mais sobre como está sendo o Japão. Passei dois dias nesta semana voando e um zumbizando, então fui pego de surpresa quando o sábado chegou. Tenho compartilhado algumas coisas nos meus stories lá no Instagram, então fica à vontade pra passar por lá enquanto não elaboro melhor minhas ideias por aqui.
Para olhar por aí 🧐
Non-coercitive marketing
Tem como fazer marketing que seja baseado na confiança? De acordo com esse texto (em inglês), tem sim e é bem bacana. Fui lendo e reconhecendo o modo como sempre trabalhei a divulgação do Ninho e dos meus trabalhos com comunicação não-violenta.
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O que está errado com as pessoas?
O Luri faz essa pergunta no título da sua carta digital e traz uma história em quadrinhos que já vale por si só.
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Influência digital
Esse era o tema que eu pretendia escrever essa semana, antes de me perder nos meandros da viagem: como influenciamos e quem deixamos nos influenciar. O texto da Julia no Papinhos trata sobre isso e recomendo a leitura.
Se algo nesta carta digital te tocou, agradou ou incomodou, me deixa um comentário? E se ainda não assina, fica aqui o convite:
Com carinho,
Tales
Desejo que sua estada por aí seja a melhor e mais proveitosa possível, sob todos os aspectos. Aproveite muito e divirta-se!
Que bairro vc está morando?