Olhar de raposa: mudança
Bom dia,
Já dizia o Buda que a única constante na vida é a mudança. Para mim, nada manifesta essa ideia com mais concretude do que mudar de casa. No dia a dia, as coisas vão mudando lentas, quase imperceptíveis. Às vezes alguns projetos maiores se destacam e aí chamam a atenção – como quando surge um novo emprego, relacionamento ou curso –, porém é na hora de deixar uma moradia e preparar outra que a potência da mudança se revela.
O primeiro passo, este que estou vivendo agora, é o da despedida. Enquanto me preparo para mudar de São Paulo para Tóquio, preciso me despedir não apenas das pessoas que habitam meu cotidiano, mas também dos hábitos, dos lugares e dos conhecimentos locais. No meu caso específico, precisarei me despedir também dos lugares favoritos e do idioma padrão para resolver o dia a dia. De alguma forma, precisarei me despedir de quem eu sou enquanto falante de português, pois o Tales em inglês ou em japonês talvez não seja capaz de ser tão engraçado, espontâneo ou inteligente quanto o Tales em português.
Acho que isso acontece com todo mundo que muda de ambiente. Podemos levar um pedaço de nós conosco, mas há uma parte que é formada na relação, no vai e vem das trocas, na parceria com as pessoas e lugares com os quais nos conectamos. Essa parte precisa ser reconstruída a cada mudança, pois depende do convívio com o que vem de fora, não é algo que se possa simular propriamente.
Talvez seja por isso, aliás, que algumas amizades são tão valiosas: aquelas em que a sensação de que, passe mais ou menos tempo, as coisas permanecem sempre iguais, como se ainda ontem estivéssemos conversando sobre algo irremediavelmente importante, ou talvez meramente banal.
Neste momento, escrevo da casa do meu parceiro, companheiro, namorado. Estou hospedado aqui enquanto articulo a devolução do apartamento que aluguei nos últimos três anos e espero a data de viajar para o Japão.
Nas últimas semanas, encerrei meu grupo de RPG, as aulas de japonês em grupo e privadas, e também minha participação nos encontros do Círculo do Ninho de Escritores. Tem bastante mudança acontecendo. Talvez por isso, não consegui elaborar uma mensagem mais longa. Acho que tudo bem, por ora quero curtir essa instabilidade. Quando eu encontrar mais sentido para ela, certamente contarei por aqui.
Até lá, sigo escrevendo em processo.
Obrigado por seguir comigo. 💕
Para olhar por aí 🧐
Decoração e futilidade
A Ana Margonato conta sobre a experiência de resistir à decoração das próprias casas. Como alguém que teve um olhar parecido, me reconheci deveras. Acho que tem tudo a ver com o tema de hoje e recomendo a leitura.
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Um pouco de nudez
A Vanessa Guedes explora a ideia de nudez na sua newsletter Segredos em Órbita, trazendo provocações sobre o que significa estar nu e como esse significado é elaborado culturalmente. Já escrevi sobre o tema aqui no Olhar de Raposa no texto Às vezes quero me desnudar e, agora que voltei a desenhar pessoas nuas na internet (comigo incluso no meio), me parece um tema bacana de trazer.
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Brasil e presidência
A Aline Valek escreveu um texto fabuloso sobre a importância das eleições que se aproximam e como elas constroem uma ideia de Brasil. Por favor leia. 😊
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O futuro que a gente imagina
As Minas de HQ publicaram uma tirinha com uma bela provocação sobre o que pensamos quando pensamos sobre o futuro e, principalmente, como as mulheres estarão nesse futuro. A provocação se estende para todos os demais grupos considerados minoritários, então fica o convite.
Se algo nesta carta digital te tocou, agradou ou incomodou, me deixa um comentário? E se ainda não assina, fica aqui o convite:
Com carinho,
Tales