Sobre lembrar quem se é
Autocompaixão e um novo curso do Ninho de Escritores :)
Meus amigos e eu estávamos voltando de um jantar em Ikebukuro, em Tóquio, quando me ocorreu comentar:
– Amanhã darei uma palestra para 150 professores no Estado de São Paulo sobre criação de ambientes que estimulem a prática da escrita criativa.
(fui menos descritivo, na verdade, porque meus amigos no Japão têm um conhecimento bastante limitado sobre a geografia do Brasil, mas isso não importa)
Eles ficaram curiosos e perguntaram a respeito, então comentei sobre como meu trabalho com o Ninho de Escritores levou até o recebimento do convite. Contei também o que abordaria na palestra: como os princípios e práticas do Ninho de Escritores ajudam a criar o que chamo de bolha de utopia, um ambiente/comunidade em que as pessoas são estimuladas a serem as melhores versões de si mesmas.
(se quiser que eu compartilhe aqui no Olhar de Raposa um roteiro comentado do que apresentei na palestra, me avisa nos comentários ou respondendo a essa carta digital)
Naquele momento, percebi algo que até então não havia me ocorrido: as pessoas que me conheceram no Japão desde outubro não sabem de aspectos muito importantes da minha vida profissional, como o Ninho ou meu trabalho com comunicação não-violenta.
Ao vir para cá, coloquei em pausa vários elementos que até então eram muito cotidianos para mim. Para as pessoas que me conheceram fora do país, eu trabalho com gestão de projetos – o que é verdade enquanto atividade que paga minhas contas, mas não é o trabalho que eu faria se não precisasse de dinheiro.
Essa dissociação entre aquilo que me importa e motiva – cultivar ambientes para a prática de acolhimento, conexão e aprendizagem criativa – e o que tenho mostrado às pessoas me atingiu com força.
O problema não é necessariamente as outras pessoas não conhecerem um aspecto meu que considero fundamental. O problema é que, nesse processo, parece que eu também esqueci ou perdi uma parte importante de mim, ao menos temporariamente.
E tudo bem, isso acontece.
Viver é igual ir ao supermercado, não pegar cesto nem carrinho porque acha que tem pouca coisa pra comprar e aí chegar no caixa parecendo um malabarista. Sorte que, com uma pitada de autocompaixão, entendo que às vezes minhas escolhas não cuidarão de mim da melhor maneira possível, então o que me resta é fazer ajustes de coerência.
Um desses ajustes, já venho fazendo, quando retomei meu lado quadrinista, algo que venho compartilhando aqui no Olhar de Raposa (como contei e mostrei nesta carta). Aliás, com o verbo assim no pretérito perfeito, retomei, parece que está resolvido e que nunca mais correrei o risco de deixar a arte de lado, mas de novo vem a autocompaixão me lembrar que vida é fluxo e que as coisas são o que estão.
Inclusive, permita-me uma pausa para mostrar uma tirinha recente que fiz, baseada em uma experiência vivida na semana passada.
Ao sair de São Paulo rumo a Tóquio, havia planejado que o Ninho de Escritores entraria em um hiato e que eu não facilitaria cursos nem grupos até retornar, pois queria me concentrar em (1) estudar japonês, (2) viver Tóquio e (3) cultivar relacionamentos deste lado do globo.
Decidi antecipar meus planos.
Abrirei uma nova turma do Ninho de Escritores para um curso de escrita compassiva (aceito sugestões criativas de nomes) semanalmente nas quintas à noite, das 20h às 22h (horário de Brasília), começando no dia 13 de abril. O curso será oferecido online via Zoom e por enquanto a contribuição financeira será voluntária – para mim é importante que dinheiro nunca seja uma barreira para quem quiser participar.
Se tu tiver interesse em saber mais sobre o curso, por favor preencha o formulário neste link:
Nas próximas cartas do Olhar de Raposa contarei mais sobre o curso e outras ideias que estão fervilhando por aqui.
Se tu tiver dúvidas ou sugestões, por favor me responda nos comentários ou diretamente por e-mail, e será meu prazer conversar contigo.
Coisas para olhar por aí
As indicações de hoje vão girar em torno da ideia de comunidade, algo que me é muito precioso e que estará no coração do curso que acabei de mencionar 😊
A Lalai Persson escreveu um texto fabuloso refletindo sobre comunidades
O Instituto Amuta tem esse ebook maravilhoso sobre design de conexões, algo que tem tudo a ver com o que acontece no Ninho
A Ayesha Khan articulou (em inglês) a importância de migrarmos da ideia de autocuidado para o cuidado comunitário
Muito obrigado por me acompanhar aqui 💕
Com carinho,
Tales