Bom dia, mundo 😊
Estou em Porto Alegre visitando minha família e amigos queridos daqui. Na carta digital de hoje, quis compartilhar alguns momentos das últimas semanas, sem ordem nem conexão entre eles.
Comprei minha passagem de São Paulo a Porto Alegre no dia mais barato que encontrei. Separei duas horas para ir da casa onde estou morando até o aeroporto de Guarulhos, mas o dia amanheceu chovendo e, quando pesquisei de novo o trajeto, levaria quase esse tempo todo para chegar até lá. No meu planejamento, esqueci que precisaria estar 45 minutos mais cedo no aeroporto para o embarque.
Resultado: saí de casa meia hora mais cedo, interrompendo uma reunião que ainda seguiria por mais quase uma hora, fui de Uber em vez de transporte público e, quando cheguei no aeroporto – bem mais cedo do que as previsões mais otimistas do Google Maps indicavam – não só ainda tinha tempo de sobra como o voo atrasou uma hora para começar o embarque.
Quando finalmente chegou a hora de embarcar, resolvi conferir meu grupo e minha poltrona. Aí já estranhei: Grupo 1, poltrona A2. Eu estava entre os premium, a galera que paga mais caro para voar de executivo. Devia ser por causa da seleção aleatória de poltronas, pensei. Não era. Descobri mais tarde que a Latam me deu um upgrade de passagem para que eu experimentasse o executivo.
Poltronas com mais espaço para as pernas, um assento vazio entre cada passageiro, comissárias de bordo oferecendo água e comida e me chamando pelo nome, cortininha separando o seleto grupo do restante da aeronave, além da proximidade da porta, o que facilitou o momento de desembarque.
Gostei da experiência? Gostei.
Pagarei mais nas minhas passagens para vivenciar essas coisas de novo no futuro? Provavelmente não.
Decidi voltar para o Japão e tentar a vida por lá. O melhor jeito, considerando o que cabe no fino espaço entre minhas possibilidades e as permissões burocráticas para entrar e ficar noutro país, será solicitando um novo visto de estudante. Uma vez de volta a Tóquio, poderei procurar um emprego que me ofereça um visto mais permanente.
Nas últimas semanas, venho contatando escolas japonesas que patrocinem o visto de estudante. Não quero retornar para a escola em que estudei porque não gostei da metodologia de ensino deles, porém pedi um certificado dos meus estudos. Tive boas notas (A+ na maioria dos critérios) e uma taxa de presença de 89.2%.
Desde então, minha inscrição foi recusada por pelo menos três escolas. Para a imigração japonesa, o mínimo esperado de alguém que já estudou e deseja retornar é uma taxa de presença acima de 90%. Fiquei bastante decepcionado e com receio dos meus planos de retorno à terra do sol nascente serem frustrados por conta dos dias em que, entediado, não quis ir à escola.
Porém, até agora duas outras escolas já sinalizaram que meus 89.2% não devem ser um problema, então ainda tenho esperanças.
Quarta-feira, quando cheguei em Porto Alegre, fui jantar com minha mãe, minha tia e meu padrasto. Em certo momento da noite, ela perguntou sobre meus planos de futuro. Até aquele momento, eu estava mantendo minhas ideias de voltar para o Japão como algo mais restrito, algo que não diria publicamente. Há algumas ideias que só permito virem a público depois que conversei com as pessoas que quero que saibam diretamente de mim.
Pois agora as pessoas para as quais eu queria contar pessoalmente já sabem, então me parece mais justo vir aqui e compartilhar também. ❤
Para que minha escrita seja honesta e transparente, preciso eu também sê-lo na vida real, do contrário me pego medindo palavras e evitando assuntos importantes.
Marquei um café com uma amiga querida que recentemente fez uma transição de carreira. Ela saiu da moda e entrou no universo dos gerentes de projeto de tecnologia. Pensando no futuro, considerei me aprofundar nessa área para que eu aumente minha empregabilidade no Japão, mas quis conversar com ela para entender quais foram as rotas que ela desenhou para si nesse processo.
Durante a conversa, expliquei meu receio de que eu não tivesse as habilidades necessárias para conseguir um emprego novo. Por anos, carreguei comigo a ideia de que não tenho um perfil adequado para o universo corporativo e que minhas habilidades e experiências seriam hippies demais para esse mundo.
Minha amiga só faltou me estapear enquanto enumerava o quanto minha trajetória como professor, facilitador de processos, pesquisador de comunicação não-violenta, criador de projetos e comunidades (etc.) desenha um perfil que pode ser muito atraente para empresas que se interessem em gerenciar e cuidar de pessoas. O grande segredo, ela me lembrou, é sobre contar a história de como essas experiências podem ser colocadas a serviço de gerar valor para alguém que queira me contratar.
Assim como aconteceu minha virada de chave de autoestima nos relacionamentos afetivos que descrevi na última carta digital, parece que outra chave virou ali mesmo. Às vezes me pergunto se algum dia serei capaz de consistentemente fazer avaliações de mim mesmo que sejam confiantes, realistas e compassivas. Enquanto isso não acontece, sigo me segurando nas redes de afeto que me circundam.
Não é um relato, mas é uma tirinha que vi essa semana e gostei.
Ela diz assim, numa tradução livre e despretensiosa:
Meu cérebro naturalmente se volta para o futuro, percebendo o vasto potencial em qualquer material cru.
Quando estou em um quarto vazio, vejo as possibilidades mais do que o quarto em si.
E é fácil me fixar o lindo futuro que poderia existir ali.
Mas em relacionamentos, ter uma ideia forte sobre aonde estamos indo me faz perder o equilíbrio na dança em que estamos no agora.
Então é importante para mim perceber que a íntima distância entre nós na qual meu coração ainda pode ficar aberto.
Estou aprendendo a estar de boa com espaços em quartos que não estão preenchidos com nada ainda, e encontrar meu futuro com curiosidade em vez de convicção sobre o que deveria estar ali.
Achei pertinente para esse momento de vida em que tento estar de braços mais abertos para um futuro espontâneo, enquanto não perco de vista alguns movimentos que desejo fazer. É bem uma dança, mesmo.
Obrigado pela companhia por esses momentos. Como sempre, estou a uma mensagem ou comentário de distância se quiser conversar comigo, viu?
Com carinho,
Tales
Fiquei super feliz de saber da sua decisão, Tales. Acompanhando e torcendo 🥰
Querido Tales, que noticia tao boa vc veio compartilhar. Me senti como expectadora da novela esperando o personagem principal tomar aquela decisao que so diz respeito ao viver os sonhos dele mesmo, amplamente e assumidamente. Fiquei curiosa / me perguntando o que seriam habilidades e experiencias hippies demais (olha ai a sementinha que me foi plantada do ninho!). Um abracao emanando energia de 'vai que deu'.