É sempre instigante ler suas reflexões. Pincei essa reflexão, em particular: "outro fator que talvez seja essencial para entender a percepção de segurança: os discursos sobre o local interferem na percepção e nos sentimentos".
Penso que isso vale para lugares, pessoas, grupos. Minha experiência limita-se a alguns bairros de São Paulo e algumas poucas cidades de outros estados.
Percebo que minha sensação de segurança está intimamente ligada a quanto o lugar, pessoa ou grupo desperta em mim a sensação de acolhimento, de não julgamento.
Enquanto eu estava frequentando a faculdade no Butantã, e precisava atravessar a cidade, eu me vi observando que os discursos influem até mesmo na arquitetura dos lugares, como se a cidade fosse composta por ilhas de prosperidade em meio a territórios de caos, desespero e miséria.
Meu palpite é que ao sermos apresentados à linguagem, não temos (e não recebemos) ferramentas suficientes para discernir entre o que é imaginário e o que é concreto (no sentido do que realmente afeta nosso corpo, nosso modo de ser e existir no mundo).
Isso só vem com a maturidade, com a curiosidade de olhar para o que existe por trás dos muros discursivos.
Infelizmente, a luta pela própria sobrevivência e o bombardeio de mensagens subliminares de menos valia, afetam diretamente a percepção e os sentimentos da maioria das pessoas, que, sem se dar conta, são esmagadas pelo rolo compressor daqueles que detêm o poder e não querem abrir mão de suas regalias.
Do meu lugar de pessoa branca (demais), mulher, agora sexagenária, com o corpo fora dos padrões de beleza imaginária, introvertida demais para me aventurar por aí, posso dizer que poucas vezes senti na pele a insegurança que é objeto das reflexões do seu texto. Mas tenho vívida a memória das três vezes em que fui assaltada enquanto, já adulta, circulava pela cidade de São Paulo, e de uma vez, em noite chuvosa, quando ainda estudava no ensino médio e caminhava para a escola, com os cadernos em uma das mãos e o guarda-chuva na outra, e fui surpreendida com uma mão masculina a me tocar subitamente entre as pernas, para em seguida sumir atrás de mim, enquanto eu me recuperava da violência física e psicológica para conseguir continuar o trajeto iniciado.
Finalizo expressando, aqui, minha admiração pela sua habilidade de escrever e suscitar lembranças e novas reflexões sobre coisas que jazem submersas nas mentes de seus leitores.
Pois é, acho mesmo que as histórias e experiências vão construindo nossa relação com a ideia de segurança, pertencimento e tantas outras coisas.
Sinto muito que as experiências de violência caminhem contigo ainda hoje. Que triste que essas sejam algumas das heranças que recebemos do nosso espaço público.
Querido Tales!
É sempre instigante ler suas reflexões. Pincei essa reflexão, em particular: "outro fator que talvez seja essencial para entender a percepção de segurança: os discursos sobre o local interferem na percepção e nos sentimentos".
Penso que isso vale para lugares, pessoas, grupos. Minha experiência limita-se a alguns bairros de São Paulo e algumas poucas cidades de outros estados.
Percebo que minha sensação de segurança está intimamente ligada a quanto o lugar, pessoa ou grupo desperta em mim a sensação de acolhimento, de não julgamento.
Enquanto eu estava frequentando a faculdade no Butantã, e precisava atravessar a cidade, eu me vi observando que os discursos influem até mesmo na arquitetura dos lugares, como se a cidade fosse composta por ilhas de prosperidade em meio a territórios de caos, desespero e miséria.
Meu palpite é que ao sermos apresentados à linguagem, não temos (e não recebemos) ferramentas suficientes para discernir entre o que é imaginário e o que é concreto (no sentido do que realmente afeta nosso corpo, nosso modo de ser e existir no mundo).
Isso só vem com a maturidade, com a curiosidade de olhar para o que existe por trás dos muros discursivos.
Infelizmente, a luta pela própria sobrevivência e o bombardeio de mensagens subliminares de menos valia, afetam diretamente a percepção e os sentimentos da maioria das pessoas, que, sem se dar conta, são esmagadas pelo rolo compressor daqueles que detêm o poder e não querem abrir mão de suas regalias.
Do meu lugar de pessoa branca (demais), mulher, agora sexagenária, com o corpo fora dos padrões de beleza imaginária, introvertida demais para me aventurar por aí, posso dizer que poucas vezes senti na pele a insegurança que é objeto das reflexões do seu texto. Mas tenho vívida a memória das três vezes em que fui assaltada enquanto, já adulta, circulava pela cidade de São Paulo, e de uma vez, em noite chuvosa, quando ainda estudava no ensino médio e caminhava para a escola, com os cadernos em uma das mãos e o guarda-chuva na outra, e fui surpreendida com uma mão masculina a me tocar subitamente entre as pernas, para em seguida sumir atrás de mim, enquanto eu me recuperava da violência física e psicológica para conseguir continuar o trajeto iniciado.
Finalizo expressando, aqui, minha admiração pela sua habilidade de escrever e suscitar lembranças e novas reflexões sobre coisas que jazem submersas nas mentes de seus leitores.
Abraço fraterno! 🥰
Pois é, acho mesmo que as histórias e experiências vão construindo nossa relação com a ideia de segurança, pertencimento e tantas outras coisas.
Sinto muito que as experiências de violência caminhem contigo ainda hoje. Que triste que essas sejam algumas das heranças que recebemos do nosso espaço público.