Uau! Que aula! Inclusive eu tenho uma dúvida que continua pairando aqui. Em Berlim se usa bastante o termo “queer” para falar da comunidade LGBTQIA+, mas raramente vejo a sigla. Uma vez citei “queer” na minha aula de inglês e minha professora, que é de ny, me corrigiu que eu deveria dizer as siglas. As discussões que tive por aqui pra entender se há diferença, me levam ao entendimento que “queer” é atrelado à política. Como vc entende essa diferença? Ou não há?
Estou um pouco distante das discussões mais atuais, mas deixa eu compartilhar um pouco do que penso a respeito. Primeiro, já vi uma galera pelas lados da América do Sul buscando outras nomenclaturas e abordagens porque, mais uma vez, "queer" acaba sendo uma leitura vinda do Norte global, então tem um viés de reprodução colonial quando há possibilidades de pensamento dissidente e questionador por todos os lados. Isso era algo que eu não estava nem de longe considerando na época do mestrado, mas que hoje me interessaria observar com mais cuidado.
Sobre usar sigla ou queer, pra mim tem duas coisas. A primeira é que eu não gosto de queer como marcador de identidade. Quando queer é usado dessa forma (e eu sei que tem o Q na sigla), me parece esvaziar sua potência. Nesse sentido, eu gosto do queer pra marcar o estranhamento e a interrupção da norma/normalidade. Queer como verbo, em vez de substantivo. Daí entra o uso das siglas e dos nomes para diferentes identidades: acho importante politicamente, porque facilita organizar e reconhecer questões e demandas de grupos com particularidades próprias. Quando montei uma roda de conversa de homens gays, percebi o quanto das nossas experiências – tão individuais e únicas – tinham elementos super parecidos. Com distinções, complexidades e tal, mas talvez mais semelhanças nos pontos que nos importavam como critério de identificação.
Tudo isso pra dizer que não sei bem sobre a diferença na escolha das nomenclaturas entre NY e Berlim. Tua pergunta me deixou pensativo a esse respeito, é algo que quero dedicar algum tempo no futuro para voltar a pesquisar sobre 😊
Interessante ponto de vista. Inclusive fiquei aqui pensando numa expo de fotografia que fui na c/o que usava o termo “queer” e era uma expo bem política. Já um amigo que é gay me disse que sente preconceito da comunidade queer aqui por se vestir como hétero. (Usando as palavras dele). Tema bem complexo mesmo.
O queer é necessariamente político e contestador, tanto que às vezes me pego pensando "será que sou suficiente para falar sobre ou a partir de uma perspectiva queer?", o que talvez conecte com o que teu amigo experimentou ao ser apontado como vestindo-se de hétero (o que quer que isso queira dizer) 😅
Uau! Que aula! Inclusive eu tenho uma dúvida que continua pairando aqui. Em Berlim se usa bastante o termo “queer” para falar da comunidade LGBTQIA+, mas raramente vejo a sigla. Uma vez citei “queer” na minha aula de inglês e minha professora, que é de ny, me corrigiu que eu deveria dizer as siglas. As discussões que tive por aqui pra entender se há diferença, me levam ao entendimento que “queer” é atrelado à política. Como vc entende essa diferença? Ou não há?
Fico feliz que tenha curtido 😊
Estou um pouco distante das discussões mais atuais, mas deixa eu compartilhar um pouco do que penso a respeito. Primeiro, já vi uma galera pelas lados da América do Sul buscando outras nomenclaturas e abordagens porque, mais uma vez, "queer" acaba sendo uma leitura vinda do Norte global, então tem um viés de reprodução colonial quando há possibilidades de pensamento dissidente e questionador por todos os lados. Isso era algo que eu não estava nem de longe considerando na época do mestrado, mas que hoje me interessaria observar com mais cuidado.
Sobre usar sigla ou queer, pra mim tem duas coisas. A primeira é que eu não gosto de queer como marcador de identidade. Quando queer é usado dessa forma (e eu sei que tem o Q na sigla), me parece esvaziar sua potência. Nesse sentido, eu gosto do queer pra marcar o estranhamento e a interrupção da norma/normalidade. Queer como verbo, em vez de substantivo. Daí entra o uso das siglas e dos nomes para diferentes identidades: acho importante politicamente, porque facilita organizar e reconhecer questões e demandas de grupos com particularidades próprias. Quando montei uma roda de conversa de homens gays, percebi o quanto das nossas experiências – tão individuais e únicas – tinham elementos super parecidos. Com distinções, complexidades e tal, mas talvez mais semelhanças nos pontos que nos importavam como critério de identificação.
Tudo isso pra dizer que não sei bem sobre a diferença na escolha das nomenclaturas entre NY e Berlim. Tua pergunta me deixou pensativo a esse respeito, é algo que quero dedicar algum tempo no futuro para voltar a pesquisar sobre 😊
Interessante ponto de vista. Inclusive fiquei aqui pensando numa expo de fotografia que fui na c/o que usava o termo “queer” e era uma expo bem política. Já um amigo que é gay me disse que sente preconceito da comunidade queer aqui por se vestir como hétero. (Usando as palavras dele). Tema bem complexo mesmo.
Eu sempre fico abismado com a facilidade com que nós humaninhos conseguimos achar motivos para nos distanciar uns dos outros 😢
Me mandaram esse post e eu lembrei do nosso papo: https://www.instagram.com/p/CpQvRw-vCxP/?igshid=YmMyMTA2M2Y=
Nossa, sim!
O queer é necessariamente político e contestador, tanto que às vezes me pego pensando "será que sou suficiente para falar sobre ou a partir de uma perspectiva queer?", o que talvez conecte com o que teu amigo experimentou ao ser apontado como vestindo-se de hétero (o que quer que isso queira dizer) 😅