🦊 Visitei um glory hole bar em Tóquio
O que é, como funciona e o que achei da experiência
Janeiro de 2024.
São quatro da tarde e estou caminhando pelo Parque Ueno. Fui para lá almoçar em um restaurante que serve um tonkatsu delicioso, porém fui com segundas intenções. Desde que vim para Tóquio pela primeira vez havia ouvido falar no Glory Hole Bar, mas não havia ainda juntado coragem suficiente para visitar.
Um glory hole bar é simplesmente um bar voltado para homens gays que querem fazer ou receber sexo oral. O glory hole nada mais é do que um buraco em uma parede numa altura logo abaixo da cintura, por onde homens põem o pênis para ser chupado por outros outros homens. É comum encontrar glory holes em banheiros públicos e também em boates noturnas; entretanto eu nunca havia ido a um bar cujo foco era a presença dos glory holes.
No passado, relatei o que aprendi sobre a vida após visitar um clube de sexo no Brasil. O que vou contar hoje pode muito bem ser a parte dois desse texto.
Saio de uma avenida principal e entro em ruelas dominadas por girls bars (estabelecimentos onde homens são recepcionados e entretidos por mulheres, normalmente vestidas e maquiadas para parecerem o mais jovem e sexy possÃvel) e casas noturnas. Confiro no mapa e vejo que estou no lugar certo, mas não encontro nenhuma placa com o nome do bar.
Somente quando passo pela frente do local uma segunda vez reparo em um rapaz baixando a cabeça logo antes de entrar por uma porta e subir escadas. Não há placas nem sinais do lado de fora, mas na base da escada vejo um pequeno cartaz indicando que o GHB fica no segundo andar. Glory Hole Bar.
Gasto mais uma hora circulando pelo bairro até juntar a coragem necessária para entrar, e enfim subo as escadas. A porta está fechada, igual à da livraria semana passada, e cogito ir embora, mas já consigo sentir a frustração que sentiria comigo mesmo se o fizesse. Entro.
O bar é escuro e está tocando pop norte-americano, o que me traz um ar de familiaridade e ao mesmo tempo me leva a refletir por que pop norte-americano está registrado na minha mente como a música esperada em ambientes gays. Algo para pensar mais a fundo depois. A primeira pessoa que vejo é o bartender, que logo se aproxima para me cobrar a entrada. São ¥1800, que me dão direito a uma bebida. Ele me entrega uma pulseira com a chave de um armário e me aponta para um pequeno vestiário. Sigo para lá e vejo uma fila de homens esperando para entrar em uma outra sala, que suponho ser a sala do glory hole. Tiro meu casaco e o coloco junto da bolsa dentro do armário. Não é hora ainda de interagir com outros humanos, primeiro preciso sentar e observar o ambiente, então volto ao bar e peço uma bebida.
O balcão do bar ocupa quase toda a extensão do ambiente. Com minha bebida na mão, fico em pé no único corredor disponÃvel. Ele é apertado, e mesmo eu me encolhendo contra a parede, as pessoas que passam ainda esbarram em mim de leve. Um rapaz indonésio se aproxima e pergunta se eu sei como o bar funciona. Diz que é a primeira vez dele e que achava que ali era um lugar onde podia conversar com outros caras. Eu faço uma piada sobre o foco do bar ser outro, apesar de estarmos ali conversando.
Ele me aponta para pulseiras luminosas localizadas logo na entrada do vestiário. Eu não havia notado que elas estavam ali. São três pulseiras diferentes que indicam o interesse em relação ao sexo oral: receber, oferecer ou ambos.
Termino minha bebida, devolvo o copo no balcão, respiro fundo e pego uma pulseira. Retorno ao vestiário e observo a porta que leva ao dark room, a sala onde os glory holes estão localizados. Há apenas uma cortina semitransparente entre o vestiário e a próxima sala, e faço menção de entrar, quando percebo um rapaz no vestiário. Nossos olhares se cruzam e então me pergunto se não estou passando na frente dele, talvez haja alguma ordem a ser seguida… Aponto para dentro sem tirar os olhos dele, na esperança de transmitir minha dúvida. Ele assente num movimento rápido de cabeça, passa por mim e entra na sala. Pelo jeito eu estava certo…
A sala é um corredor tão apertado quanto o do bar, com quatro pequenas cabines protegidas por cortinas. Entre cada cabine há glory holes, mas não vi ninguém usando os buracos: as pessoas entram em pares ou trios e interagem dentro das cabines, às vezes sendo observadas por caras que ficam no corredor abrindo as cortinas de tempos em tempos para um showzinho não tão particular.
Há vários homens no corredor. O rapaz que entrou na minha frente checa a primeira cabine, vê que está ocupada e segue adiante. A segunda cabine está vazia, então ele entra. Assim que ele desaparece da minha vista, me dou conta do que acabou de acontecer. Eu quis perguntar se ele estava na fila para entrar, mas, da posição dele, provavelmente pareceu que eu o estava convidando para compartilhar uma cabine. Se dependesse de mim, provavelmente levaria uma hora ainda circulando pelo bar até juntar a coragem necessária para tomar iniciativa, mas ali estava a vida me apresentando um atalho.
Entro na cabine.
(Uma parte de mim que gosta de ler e escrever contos eróticos já pensou em fazer um only fans ou algo parecido só para escrever sobre experiências sexuais em detalhe, algo que não farei aqui e agora, mas fica a semente.)
Conforme a noite avança, percebo mais pessoas conversando pelo bar. Alguns frequentadores vêm, gozam e vão, enquanto outros aproveitam o tempo para interagir com mais gente. Em certo momento, percebo o primeiro rapaz com o qual interagi entrar em uma cabine com outro cara. Eles passam bastante tempo lá, depois sentam juntos no bar e conversam, para então irem embora juntos. Fico me perguntando se um relacionamento está nascendo ali, algo que me faz encerrar a noite com um sorriso.
Saio do bar junto com o moço indonésio com o qual conversei ao chegar e vamos comer um ramen. Durante o jantar descubro que temos orientações polÃticas opostas, mas algum diálogo ainda se faz possÃvel.
Volto para casa pensativo, alimentado e leve.
Com carinho,
Tales